Pergunta: Os espíritos nas sessões espíritas, dizem que ninguém pode
atingir sozinho a Libertação. Se alguém houver atingido um alto grau na evolução,
tem que esperar até que todos os outros tenham atingido o mesmo grau e,
portanto, é obrigado a auxiliá-los. Que não nos podemos desenvolver sozinhos,
porém sim em grupos. Que tendes a dizer sobre este assunto?
Krishnamurti: Se citardes
contra mim uma autoridade, nada tenho a dizer, pois que eu não tenho
autoridade. A Verdade é sempre existente no homem e, em sua realização, todo o
tempo desaparece. Não é uma questão de desenvolver a eu-consciência, porém sim
de liberta-la de seu círculo. No vos libertardes do centro do eu, naturalmente
ajudareis aos outros. Uma flor é bela e não pode deixar de o ser. É somente
quando sois feios, que necessitais de pensar na beleza; é somente quando sois
incapazes de ajudar a outrem que tendes que pensar em auxiliar. A beleza nasce
quando há feiura. Não penseis em adquirir a Verdade, pois que nessa aquisição está
a divisão dos “muitos” e do “vós”. Na realização, no entanto, não há competição.
Pergunta: O espiritismo nos ensina que nos podemos desenvolver
melhor no outro mundo do que neste. Não seria melhor adiar o esforço da
Libertação para quando nos acharmos no outro mundo, onde se pode ela obter mais
facilmente?
Krishnamurti: E
entrementes, sofrer, não é assim? “Este mundo é uma maldição e fora deste mundo
é que está a felicidade verdadeira” —estou certo de que muitos nisto acreditam.
Vós usais palavras diferentes, porém o significado é o mesmo. Isto quer dizer
que não pretendeis fazer o esforço aqui e agora, quereis adiá-lo para o
futuro. Não vos quereis tornar
plenamente eu-conscientes, porque consciência implica sofrimento,
responsabilidade; portanto quereis antes imitar, cultuar, explorar. Isto vos
proporciona um sentimento de satisfação, acoberta as vossas feridas; há, assim,
o adiamento do esforço, o qual é a continuidade da ignorância. Quando há eu-consciência,
há esforço. Eu vos falo do esforço, não de planos nem de um mundo diferente
deste. De que vos serve o exame de outros planos, de outras consciências? Tornai-vos
conscientes neste mundo, pois que é neste
mundo que sofreis, é neste mundo que
existe a transitoriedade e a transitoriedade só existe enquanto houver
eu-consciência. Não vos é dado transferir a consciência deste mundo para outro
plano e esperar que ela se torne uma consciência diferente. Consciência é consciência
onde quer que esteja—não há alto nem baixo. Somente no presente está todo o
universo. O universo inteiro está nessa centelha que é completa em cada um de
nós, e a realização dessa completude liberta o homem de toda a tristeza, de
todos os opostos e da ideia de dualidade.
Krishnamurti, Reunião de
verão, Ommen 1931