Pergunta: Outro dia haveis dito que todos os instrutores que seguimos
são, na Verdade, nossos destruidores. Buda, cultuado e amado através das
idades, foi por acaso um destrutor, ou diríeis não ter ele sido um instrutor?
Quereis dizer que os seguidores fazem destruidores de seus instrutores, ou que
existe um elemento destrutivo na ideia de alguém que dá ensinamentos a outrem?
Não encarais a vós mesmo, no verdadeiro sentido, como um professor?
Krishnamurti: Se
acompanhardes a outrem, dele fazeis um padrão
segundo o qual orientareis as vossas vidas. Assim, o instrutor a quem seguis,
torna-se o vosso destruidor. O verdadeiro instrutor não vos conduz, não vos
domina ou diz “por mim realizareis a Verdade”. Ele vos mostra as falsas
criações de vossos desejos íntimos e a vós compete ver a sua natureza ilusória
e pelo vosso próprio esforço libertar deles a mente e o coração. Portanto não
pode haver apostolado para realizar a Verdade. Como podeis seguir a outrem
quando aquilo que buscais está dentro de vós próprios? Porém, na gratificação
do desejo, erigis a outrem, esculpis a imagem de uma suposta divindade e a essa
imagem cultuais na esperança da sabedoria. Portanto, estareis seguindo ao vosso
próprio desejo.
Porque entronizais a outrem para
adorar? Porque esperais, através de outrem, atingir miraculosamente, ser recompensados,
estimulados, guiados. Servis-vos de uma ideia para dominar a mente, portanto,
não a estais libertando; e é somente por meio da perfeita liberdade da mente
que podeis discernir. Como podeis entender o Supremo êxtase da Vida com a vossa
mente acumulada de preconceitos, quando estiverdes perseguindo a ideia de
outrem, quando estiverdes erigindo a outrem em autoridade para cultuar?
Não vos estou compelindo ao individualismo
vazio. “Falo de ser livre, de realizar a imensurável Vida que não tem começo
nem fim, desse êxtase da Verdade que haveis acobertado pelas muitas camadas de
vossa cobiça. Ninguém a não ser vós mesmos e mediante a vossa própria ação,
pode purificar vossa mente e vosso coração. Se enxergardes a significação que
isto tem, vossa ação demonstrará a capacidade que tendes, em vosso interior,
para compreender.
No seguir a outrem criais o
explorador e o explorado. Se fordes arrebatados pelo que eu digo, é porque eu
vos estimulo à ação e porque esperais, ficando despertos, realizar. Jamais
conhecereis o êxtase de viver por meio do estímulo; somente o podeis realizar
pelo vosso próprio entendimento, pela vossa própria ação, liberta da cobiça,
dos motivos. A Verdade jamais é conhecida por meio de outrem e o homem que
persegue os pensamentos de outrem, moldando-se de acordo com tal imagem, nada
mais está fazendo que destruir, mediante a sua própria ação, aquilo que
procura. Haveis de dizer que não tendes nem a coragem e nem a sabedoria para
realizar a Verdade. Onde é que há sabedoria a não ser através de vosso próprio
esforço? Para ir longe, tendes que começar de perto.
Assim, pois, neste verdadeiro
sentido da palavra, eu sou um instrutor. Não quero que me copieis. Não quero
que me sigais, nem mesmo que aceiteis o que estou dizendo. Eu vos estou
mostrando como projetais vossa sombra, e a vós compete o destruí-la. Eu vos
estou mostrando a causa da tristeza e a vós compete vos libertar dessa causa.
Eu vos estou mostrando a via natural, jubilosa, da Vida, o modo extático do
apercebimento e a vós compete realizar este êxtase mediante o vosso próprio
esforço.
Krishnamurti,
Acampamento de Ojai, 7 de junho de 1932