Pergunta: Porque modo um homem liberto ocupa a sua mente, enquanto
cumpre deveres físicos que não exijam plena concentração? Em que pensais quando
vos barbeais, quando aparais a grama ou cavais um jardim? Esta pergunta não é
feita por ociosidade, porém sim com o desejo de mais plenamente alcançar a
técnica do apercebimento.
Krishnamurti: Eu vos
contarei uma história. Foi perguntado a uma centopeia por um amigo: “Como é que
tu podes mover os teus 88 pés?” E a centopeia começou a pensar como é que ela movia os seus 88 pés,
por tal modo que, por fim, ficou absolutamente incapacitada para se mover.
Não há técnica, não há sistema
por meio do qual possais aprender o apercebimento. O apercebimento vem por meio
do constante ajuste. Se constantemente vos estiverdes ajustando, então não
podeis seguir sistema algum, destruireis todos os métodos. Se seguirdes um
método, jamais podereis compreender a Verdade.
Pergunta: Que é que entendeis por “apercebimento”? Intelectualmente
isso parece-se, de muito, com “consciência”, e, apesar disso, parece implicar
algo mais de que se esteja apercebido e daí alguém ou algo se apercebe.
Exatamente antes de despertar há às vezes, um bendito apercebimento de se estar
em estado indiferenciado, porém não parece ser isto o que entendeis pelo termo.
Krishnamurti: Consciência,
para mim, é eu-consciência, é personalidade, na qual existe ainda egoísmo, por
mínima que seja a proporção. Apercebimento é estar livre da eu-consciência,
estar livre de todo egoísmo.
Krishnamurti, reunião de verão em Ommen, 1931