Pergunta: Não serão todos os esforços para consolar o homem após a
morte, tais como as teorias sobre a reencarnação, o espiritismo e outras mais
que coisas capazes de transviarem o homem de sua busca pela Realidade?
Krishnamurti: Aquilo que
dominais Ego, é pata mim, uma série, um acúmulo de qualidades, de
peculiaridades, de idiossincrasias. Pensamos que por desenvolver esse ego por
meio do tempo, chegaremos à aquisição da Verdade, sobrepujaremos toda a
tristeza e ficaremos livres para viver na completude. Porém, esta
eu-consciência tem suas raízes na ilusão de separatividade, no “tu” e no “eu”.
Pretendemos conservar esta ilusão
de separatividade durante a vida, através de uma série de mortes. Isto é, em
lugar de operar um esforço concentrado, agora, queremos adiá-lo. Assim, pois,
preocupamo-nos muito mais com o que aconteceu no passado, e com o que vai
acontecer no futuro, após a morte, do que com o presente. O passado, com suas
perdas e lucros é memória, a qual se torna faculdade; o futuro, com suas
esperanças e anseios, é antecipação. Porém, por nos tornarmos concentrados na
ação no presente, atingimos o equilíbrio entre o futuro e o passado, o agora, no qual está toda a
existência. Assim, pois, a ideia de reencarnação acha-se baseada sobre uma
ilusão. Na realização da completude, essa ilusão se esvai.
A reencarnação se acha baseada
sobre a ilusão de separatividade e, portanto, é uma ideia incompleta, não
Realidade. A completude, essa totalidade, essa beleza, está em tudo, está em todo o ser humano e em toda a sua plenitude.
Ela está sempre presente em tudo e jamais pode exaurir-se. Não haveis de
realizar a plena significação dessa completude por prolongar a ilusão tempo em
fora. A Verdade acha-se agora presente em todas as coisas. Pelo fato de não
poderdes agora fazer o tremendo esforço para serdes incorruptos, para vos
libertardes de todas as tradições, do institucionalismo e dos códigos de moral
com suas pavorosas crueldades e superstições, solicitais tempo para
compreender. O tempo somente prolonga a tristeza. O tempo não é mais que um
adiamento, não é a completude viva do presente.
Para realizar a completude no
presente, tendes que vos destacar do processo superficial denominado
civilização e tornar-vos cada vez mais conscientes de vós mesmos; isto é,
conscientes de vossa cobiça, de vossas invejas, de vossa pequenez, de vossas
alegrias e tristezas, de vossas peculiaridades e de vossas qualidades. Por vos tornardes
conscientes dessas coisas, as eliminareis e realizareis esse amor que se dá a
todos da mesma forma. Isto não é indiferença, posto que em tal não
haja abstração nem repulsão, inimigos ou amigos. É como o perfume da flor.
Realizareis esse amor e esse pensar que tem crescido para a sabedoria na qual
toda a particularidade, toda a limitação é removida. Quando existir esta
riqueza de ambos, haverá harmonia, pura intuição, a realização interna da
completude.
Jiddu Krishnamurti, 9 de março de 1931