Pergunta: Falais dos opostos e os colocais no reino da ilusão. Depois,
falais da Vida, da Verdade, na qual a ilusão não pode ter existência. A
tristeza tem seu oposto, que é a felicidade e, daí ambas as coisas são ilusões
para aquele que vive na Verdade.
Portanto, não buscais felicidade — o oposto da tristeza — porém sim a
Verdade. Que Verdade é essa?
Krishnamurti: Como já
expliquei, a causa dos opostos é a eu-consciência. Enquanto a eu-consciência
persistir, enquanto o pensamento e a emoção tiverem suas raízes na
eu-consciência, no “eu”, há de sempre necessariamente, que haver opostos. Ora,
a verdade é a libertação da eu-consciência. Isto é, por meio dessa chama da
plena responsabilidade, por meio dessa chama da plena autoconsciência, advém a
realização na qual não existem opostos, que é a completude. Enquanto existir o
ego, o “eu”, haverá, inevitavelmente opostos, bem e mal, virtude e pecado,
matéria e espírito, céu e inferno, felicidade e tristeza. Para, porém, realizar
essa completude última, na qual cessam todos os opostos, é preciso que não haja
eu-consciência, é preciso que não exista o “eu”. A Verdade somente pode ser
entendida quando estiverdes absoluta, completamente libertos dos opostos,
quando não existir a desarmonia criada pelos opostos. Se não houverdes
conhecido o cheiro da terra que se produz quando chove depois de muitos dias
quentes, eu não o posso descrever. Da mesma forma, se não houverdes conhecido
este perfume da eternidade eu não o posso descrever, nem tão pouco vós o compreenderíeis
se eu o fizesse.
Krishnamurti, 4 de agosto de 1931