Pergunta: Ouvi-vos dizer que uma experiência devidamente compreendida é
tudo quanto se necessita para o estabelecimento da liberdade de consciência. Poderíeis,
por favor, explicar isto mais largamente. Não será necessário em primeiro lugar
passar por uma imensa variedade de experiências que somente parcialmente são
compreendidas; ou existe uma estrada mais direta do que esta?
Krishnamurti: Digo que
por meio do significado pleno de uma experiência, podeis compreender a
expressão integral da Vida. Uma experiência de amor, de amor intenso por
outrem, se for adequadamente compreendida, plenamente vivida, vos proporcionará
a realização da Verdade. No amor existem a luxúria, a inveja, a posse e o
completo apercebimento do “tu” e do “eu”; nele existem a solidão, a dor e a
alegria. Quando estais enamorados de alguém tudo isto se manifesta. Para
compreender o significado pleno de uma tal experiência, necessitais de possuir
grande concentração — não o vos afastardes do conflito, pois que nada mais é do
que uma evasão.
A maioria das pessoas não cuida
em dar sua plena inteligência à compreensão de uma experiência única e pensam,
assim, que por multiplicar as experiências chegarão ao entendimento. Tomai a
morte como exemplo. Nela existe o pleno significado da Vida; existem a solidão,
o desespero, a esperança, o temor, a perda, a angústia, a luta entre a solidão
e o amor, a busca de consolação, que conduz a muitos enganos. Há o desejo de
vos unirdes com aquele ser a quem amais, o desejo de verificar seu estado após
a morte. Se examinardes isto, se sobre tal refletirdes, haveis de verificar que
todas essas emoções emanam da consciência da separação, do “tu” e do “eu”. A
morte não pode ser compreendida por transferir o problema para um outro plano
de luta, por dizer “unir-nos-emos sobre um outro plano”. A Verdade não conhece
nem a separação nem a unidade — ela é. Vós emprestais qualidades à Verdade,
atribuis-lhe a unidade, pois que em vossa mente, em vossa consciência, existe o
“tu” e o “eu”. Removei essa particularidade e não haverá morte, e a realização
disto é a imortalidade. Então não mais existe solidão. O propósito de todas as
experiências, no fim de tudo, é eliminar a consciência da separação, do “tu” e
do “eu”, com todas as suas qualidades implícitas de inveja, cobiça, paixões,
desejo de posse e assim por diante. O valor da experiência é o de dissipar essa
ilusão da separatividade, a qual é a causa da tristeza, a causa da morte.
Para o homem que realiza a
Verdade, a Vida, existe a imortalidade, não a continuidade infinita de si
próprio, que nada mais é que ilusão, porém a continuidade da Verdade, a da
Vida, que é eterna. Quanto mais nos apegarmos ao particularizado, ao “eu”, ao “meu”
e ao “teu”, porém somente esse amor que não conhece distinções, que não conhece
particularidades — no qual, portanto, não existe sujeito nem objeto.
Krishnamurti em, Calander, Escócia, 15 de março 1931