Pergunta: Um homem de meia idade, porém ainda jovem e forte, perde seus
haveres em resultado da depressão econômica e fica incapaz de por mais tempo
continuar a sustentar sua família; um artista fica incapacitado para vender
suas obras afim de comprar alimento; uma viúva cai doente e, com diversos
filhos de idade ainda tenra, fica sem recursos. Há centenas de casos deste gênero
por toda a parte — pessoas que desejam uma vida boa, porém que têm de empregar
todas as suas energias na luta extenua pela existência. Os desempregados
rebelam-se porque têm fome. O alimento espiritual mostra-se insuficiente. Quem
os poderá auxiliar em tais casos?
Krishnamurti: O indivíduo
não deve se sentir satisfeito e contente mesmo que esteja bem alimentado.
Presentemente, todo sistema de vida se encontra baseado na luta do indivíduo
contra o todo,, isto é, no egoísmo.
Dais uma acentuação errônea à individualidade. O indivíduo pensa que pela
auto-expressão, por lutar ele próprio com a existência, pelo seu bem estar, está prosperando.
Ora a individualidade não pode afirma-se no trabalho coletivo, isto apenas
produzirá o caos como sempre tem feito. Pensais que pela auto-expressão, que
por meio das obras, do acumulo, chegareis a progredir em direção à felicidade,
à Realidade, enquanto que a Realidade jamais pode ser realizada por meio de
esforços congregados, por meio de salvadores, porém sim, somente em virtude do
esforço individual. Se compreenderdes isto, planejareis a vida por maneira
diferente daquela realidade da morte. É a paz da perfeita vacuidade, não a
estagnação do esforço oculto que o fazeis. Presentemente tendes buscado
coletivamente realizar a Verdade e afirmar vossa individualidade, vossa
auto-expressão em atividades que somente podem ser coletivas. Agora digo-vos eu
que necessitais trabalhar coletivamente e buscar a Verdade por maneira
individual, independentemente. Se baseardes o plano da vida sobre esta
concepção, não poderá jamais existir a exploração dos povos causada pelo
egoísmo e pela cobiça, nem a confusão da busca individual em prol da Realidade,
com o trabalho o qual somente pode ser executado por meio da cooperação de
muitos grupos. Planejai e trabalhai coletivamente, porém, buscai a Realidade
individualmente; isto é, apagai todos os ideais que haveis estabelecido,
oriundos de vosso egoísmo, baseados sobre estas falsas concepções de que pelas
autoridades espirituais, pelos esforços de outrem, por meio de uma instituição
ou culto, chegareis a realizar a Verdade.
Pergunta: Que vem a ser a evolução tal como pode ser vista no Eterno
Agora?
Krishnamurti: Não podeis
usar o termo “evolução” — evoluir, crescer — encarado desse agora que é
eternidade. Ele não é “progresso”, não tem direção, está sempre renovando a si
mesmo, não é estático, é um vir a ser isento de tempo — não no sentido de
crescer para alguma coisa. É tranquilidade da plenitude, porém não a
tranquilidade da morte. É a paz da perfeita vacuidade e não a estagnação do
esforço oculto. Portanto, guardai em mente que não “progredis” em direção à
Verdade, porém que a Verdade existe onde vós estais, e para a realizardes
tendes que, pelo vosso próprio esforço, pela vossa própria emoção, pelo vosso
próprio pensamento, libertar esse pensamento e emoção das limitações que mais
não são que falta de adaptabilidade; e, então, o tempo, em si, cessa de
existir.
Krishnamurti, 30 de julho de 1931