Pergunta: Como será possível neutralizar o medo, por exemplo, medo de
certos seres humanos dos invisíveis, dos fantasmas, de certos animais e dos
temores nervosos?
Krishnamurti: Não vos é possível,
expelir o medo somente por estabelecer um elemento oposto a esse medo. Se
fordes medrosos, não luteis contra o temor e esforçai-vos por conquistar uma
atitude destemida, porém averiguai de porque tendes medo. Pesquisai; buscai;
não eviteis esses temores mediante a introdução de uma série de outros temores,
porém, examinai-os. A causa fundamental do medo acha-se baseada no egoísmo e
deste se desenvolvem as várias formas sutis de temor. Se, porém, a todo o
instante estiverdes buscando ser plenamente conscientes de vós mesmos e, portanto,
vos libertardes da eu-consciência, o temor cessa. Há, porém, temores nervosos
que dependem do corpo. Por consequência, verificai se vos alimentais de maneira
apropriada, se tendes exercício adequado, sono suficiente, afrouxamento dos membros
(relaxamento) — pois todas essas coisas dependem da mente. Uma mente na qual a
todo o instante haja conflito entre o “meu” e o “teu”, entre os opostos, entre
aquisição e vacuidade, entre riqueza e pobreza, não pode relaxar-se. Achar-se-á
colhida em sua própria imaginação e desse estado, surgem os temores; se, porém,
a todo o instante estiverdes vos esforçando por libertar a vossa
eu-consciência, isto é, por vos tornardes tão eu-conscientes que nessa chama de
eu-consciência chegueis a realizar a plenitude, a completude da Vida, então, os
temores desaparecem.
É inútil combater um oposto com
outro; era isto que eu queria dizer ontem ao externar que não deveis torcer a
vossa vida para adaptá-la a um ideal. Um ideal nada mais é do que um dos
opostos. Quantas pessoas vedes ao vosso redor que já estabeleceram ideais,
ideais maravilhosos, e torcem sua vida segundo esses ideais, por terem medo do
seu próprio egoísmo e pensarem que tendo um ideal chegarão a vencer o egoísmo.
Isto é, o ideal, torna-se o oposto. Desse modo, estão famintas de vida,
perderam toda a amabilidade no viver, em se adaptar. Por isso é que eu digo,
libertai-vos de vossos ideais se realmente vos quiserdes tornar eu-conscientes;
então podereis libertar-vos de todas as ideias, opiniões, pensamentos,
imaginações, vontade, e daí provém a plenitude de ser, que sempre se está se
renovando a si mesmo. Isto é que é felicidade, e não um conjunto de ideais ao
qual vos apegais por vos atemorizardes da vossa própria egoencia.
Krishnamurti em, 31 de julho de 1931