A realização da Verdade é a única
segurança da felicidade. A Vida é seu próprio criador e sua própria criação, na
qual não existe divisão do “tu” e do “eu”. Não vos é possível objetivar a Vida
e buscar a esse objeto para vossa inspiração, para vosso bem-estar; pois a
completude existe em todas as coisas e em todo o indivíduo. Na realização dessa
completude, que é a própria Vida, reside a segurança da tranquilidade, a
cessação do conflito, a libertação da mente e do coração. Portanto, a ideia de
que vós como indivíduos sois sujeitos, atuando para chegar a um objeto por meio
da experiência, a um objeto que vos seja exterior, é a negação da Realidade que
em vós existe em completude. Por todo o mundo, o homem tem objetivado a
Verdade, e por esse modo encara a si mesmo como estando dela separado,
progredindo sempre em sua direção. Por outras palavras, ele a concebeu como não
sendo eterna, morando no interior, porém antes como algo exterior a si próprio
e em cuja direção tem que crescer por meio de um acúmulo de virtudes,
qualidades e atributos.
A Verdade é isenta de qualidades.
Aquilo que é eterno, que é isento de todas as qualidades, somente pode ser
atingido quando existir em cada indivíduo a absoluta cessação de toda a
particularidade, isto é, da eu-consciência. O homem é consciente em si,
encarando a vida do seu ponto de vista estreito, limitado, egoísta; porém, por
libertar-se dessa consciência-de-si, é como se acha a realização da Verdade. O
homem que deseja realizar a Verdade deve, por meio do auto-recolhimento, por
meio de um grande esforço, transcender essa consciência que é o centro das
qualidades. Isto o assegurará nessa tranquilidade que lhe proporcionará a
capacidade de julgar por si mesmo o verdadeiro valor de todas as coisas. Isto é
iluminação. O homem que conhece o verdadeiro mérito das coisas, das ideias,
liberta-se de todas elas. Para isto saber, tendes que vos libertar do cativeiro
da denominada civilização. Sede livres em vós mesmos e amareis ao vosso
próximo.
Do auto-recolhimento, pois,
dimana o verdadeiro comportamento, a verdadeira ação e da verdadeira ação
provém a simplicidade da vida. Esta simplificação não é rudeza, porém, sim, o
entendimento dos verdadeiros valores, dos quais decorre a liberdade. O
comportamento, a conduta, brotam de um golpe de vista verdadeiro, do verdadeiro
equilíbrio da razão e do afeto. O homem que se encontra embaraçado, limitado,
perturbado por causa dessas coisas que não são essenciais, não pode libertar
sua mente e pensar por modo impessoal para, por essa maneira, libertar-se das
limitações da tradição, do costume e do amor, ao qual as coisas particulares
oferecem muralhas limitativas, no qual existe a consciência do tu e do eu, do meu e do teu.
Quando tiverdes o propósito,
quando cuidardes de buscar a verdadeira causa da tristeza e do sofrimento,
sobrevirá o desejo de libertar-se das limitações e de realizar a Verdade que é
sempre-existente, causa de si própria em todas as coisas.
Tudo isto será apenas teoria
superficial, intelectual até ao ponto em que a não tenhais posto em prática.
Para mim, não é teoria. É o que realizei, o que para mim é a mais alta Realidade,
o perfeito equilíbrio da razão e do amor; é iluminação.
Krishnamurti em, Calander, Escócia, 15 de março de 1931