Pergunta: Haveis dito que na natureza todas as coisas se movimentam
seguindo uma espiral ascendente, em direção a uma simplicidade cada vez maior.
Porém, no que se refere à constituição, não será antes o contrário? O homem é
mais complicado do que uma ameba. O arcabouço das comunidades civilizadas é
mais complicado do que o arcabouço das comunidades selvagens. Na evolução
social não se moverão todas as coisas do simples para o complexo?
Krishnamurti: Por outras
palavras, que é que entendeis por simplicidade?
Os seres humanos, da completa
simplicidade ao começo, desenvolvem-se por meio de complexidades para
retornarem à simplicidade, como acontece em toda a grande arte. Existem aborígenes
na Austrália tão simples, que quando se lhe dá um cobertor à noite para se
cobrirem, esquecem-se pela manhã que tiveram frio e o deixam de lado, em vez de
o guardarem para a noite seguinte. É esta simplicidade em seus começos —
rudeza, falta de entendimento, limitação de pensamento e sentimento. A mente e
o coração ainda não acumularam experiências. Esta é a condição das mentes e corações
parcialmente evoluídos, primitivos. A medida que o homem se torna mais civilizado,
enfeita-se com penas e tintas. Torna-se então, mental e emocionalmente um pouco
mais complicado. E assim, p processo continua até que, uma vez mais, volta ele
à simplicidade, por haver adquirido a simplicidade consciente, que é a
resultante de toda a experiência. Um tal homem, é, na verdade, divinamente
simples, pelo fato de haver sobrepujado a experiência. Não mais se encontra sob
o jugo da experiência. Se olhardes para dentro de vossa própria mente e
coração, verificareis estarem eles repletos de complicações: crenças,
tradições, esperanças e temores. Estareis um pouco mais evoluídos do que o
homem que se reveste de penas e se pinta de cores selvagens e berrantes. Aquele
que houver atingido a meta é inteiramente simples, sua mente e coração são
incolores, porém, não negativos. Assim como a luz branca se compõe de todas as
cores, assim também é o homem que houver passado por todas as experiências e
alcançado a simplicidade do atingimento. É esta a maneira de compreender, o
caminho para a felicidade: tornou-se tão simples, tão desprendido de todas s
coisas que, como o lago calmo que reflete a pureza, possais refletir a Verdade
por serdes vós próprios essa verdade.
Krishnamurti em, Calander, Escócia, 15 de março 1931