Pergunta: Quando dizeis que não existe pecado, que não existe o mal,
não estareis lançando aos ventos essas distinções morais de bem e do mal sem as
quais a civilização se tornaria um caos?
Krishnamurti: Sustento
ainda que do ponto de vista da Vida, da libertação — a qual é a consecução de
toda a experiência — não existe mal, nem bem, nem céu, nem inferno; porém,
partindo do ponto de vista da limitação, essas coisas existem. Como me preocupo
com a Vida e não com o que seja estreito e limitado, para mim, não existe o mal.
Isto, porém, não significa que não exista o mal para aqueles que estão imersos
na limitação.
Se examinardes uma árvore,
verificareis que toda a energia dela está oculta nas raízes e que a fraqueza, a
vida delicada, a flor tenra, a substância do fruto, estão em cima. O forte
sustenta o fraco. Na civilização atual, prevalecem circunstâncias inversas; os
fortes estão em cima e os fracos estão embaixo — compelindo a autoridade aos
ignorantes. Daí, precisam estabelecer leis que tratem do bem e do mal;
necessitarem de códigos de moral. Porém, o homem que quiser livre — e é meu
deleite, meu propósito, libertar os homens — deve inverter as circunstâncias da
civilização moderna e voltar à natureza e à Vida. Isto não significa o caos. Ao
contrário, — pois não tendes agora o caos? Não estão todos no mundo sofrendo?
Não estão amarrados à roda da tristeza? E pensais ser isto a ordem perfeita?
Olhe para dentro de vós mesmos e verificareis que há aí conflito ocasionado pela
condição desordenada de vossa mente e do vosso coração.
Quando não existe ordem dentro de
nós, quando não houver propósito fixo em vossa vida, precisais ser guiados e
compelidos à ação, pelas definições do bem e do mal, pelo estímulo do céu e o
terror do inferno, pelas exigências das religiões. Se, porém, vos tornardes lâmpadas
em vós mesmos, então não mais haverá bem nem mal; será tudo uma questão de
experiência. Seguramente isto é mais simples do que o ser controlado por leis
externas, por autoridades exteriores, por incentivo de recompensas e o temor da
condenação. O que é mais simples, o que é mais digno, o que é que vos pode dar
maior força para subir às alturas? Se encarardes a vida sob este ponto de
vista, não mais pode existir bem nem mal.
Krishnamurti em, Calander, Escócia, 15 de março 1931