Pergunta: Sois de opinião por acaso, que o progresso na ciência técnica torne possível um contato espiritual maior entre os vários povos?
Krishnamurti: Em primeiro lugar, não sei o que entendeis por "contato espiritual". O homem que busca a Verdade, não possui nacionalidade, não conhece distinção de povos, não tem fronteiras. São as nossas mentes que dividem as pessoas em franceses, alemães, ingleses e indianos. Porém, o homem que busca a Verdade, encontra-se a si próprio, liberto de todas as bandeiras e de todos os coloridos; ele é um ser humano e, nesta pesquisa, a ciência desempenha um papel secundário. A ciência não pode alterar os sentimentos; só vós, pessoalmente, podeis efetuar isto. A ciência não vos pode forçar a vos tornardes conscientes dos vossos preconceitos, da vossa estreiteza, do vosso fanatismo e ódio; isto somente pode ser levado a efeito pelo vosso próprio esforço. A ciência pode levar a Índia a um contato mais íntimo com a Europa; se, porém, tiverdes o preconceito da cor, a ciência não vo-lo poderá tirar. Ela pode explicar-vos que a cor é um resultado da diferença de raça ou de clima; porém ninguém vos poderá eliminar o preconceito, a não ser vós próprios. A ciência não vos pode derrubar as limitações do patriotismo estreito, em libertar-vos do ódio para vos tornar verdadeiramente humanos. Se, porém, fordes pesquisadores da Verdade, estareis livres de todas as fronteiras, de todas as ideias de patriotismo, de toda essa ilusão do "meu" glorificado para tornar o "nosso". Se em vós derrubardes as barreiras do preconceito, das estreitas limitações do patriotismo, nesse caso, em virtude de vosso próprio entendimento, poder-vos-eis servir da ciência. Sois seres humanos, vivos, vitalizados. Uma força externa pode vos sustentar durante algum tempo, porém não vos pode alterar, nem modificar. É somente no vos tornardes plenamente conscientes, plenamente responsáveis pelos vossos atos, pelos vossos pensamentos e pelas vossas emoções, que começais a vos servir das circunstâncias externas no sentido de produzir no mundo um diferente estado de compreensão.
Krishnamurti, 30 de julho de 1931