Pergunta: Podeis nos explicar como é possível ter emoções fortes e
apesar disso permanecer desprendido?
Krishnamurti: A emoção
pura é desprendida. Se eu amar a alguém verdadeiramente, profundamente, estarei
desapegado, pois que o amor verdadeiro e, em si mesmo, completo. O que corre
com o nome de amor nada mais é do que emoção vazia e depende de outrem até para
a sua existência. O afeto, estando cativo do indivíduo, tem que ser limitado.
Se vos apegardes a outrem para a vossa felicidade, a todo o instante estareis
temendo perde-lo, seja pela morte, seja pelo fato de o afeto ser transferido a
outrem. O amor pessoal, com suas ânsias de posse, seu temores, seus zelos, suas
exigências, cria, inevitavelmente, uma barreira entre o indivíduo e o objeto do
seu amor. A dor oriunda do amor é criada por esta barreira, ao passo que o
verdadeiro amor, que é completo em si mesmo, está liberto de toda a tristeza.
Este desprendimento do amor verdadeiro, não é emocional nem sentimental e nem
tampouco é indiferença; porém, ao exercer vosso esforço próprio orientado na
direção da completude, naturalmente haveis de permitir a outrem plena liberdade
de ação para o mesmo fim. O amor é completo em si mesmo, livre de todos os
objetos, embora possa, no começo, ser expresso e percebido por meio dos
objetos. Sem desprendimento, porém, no que diz respeito aos objetos, este amor
que é sua própria eternidade jamais será realizado.
Krishnamurti de verão em Ommen, 1931