A fé baseia-se não na sabedoria,
mas na esperança, naquilo em que desejáveis acreditar, naquilo que vos
atemoriza. Atemorizai-vos de inquirir de vossas próprias crenças, de vossas
próprias esperanças e temores, para que essa fé que vos sustenta não venha a
ser destruída. Para mim, o verdadeiro entendimento origina-se somente do
inquirir, do exame contínuo, fazendo uso dessa plasticidade da mente que dá
sabedoria. Para possuir esse entendimento que é sabedoria, nascida do
raciocínio, da reflexão, da pesquisa, da dúvida, tendes que, absolutamente, a
vós próprios libertar do hábito de viver no passado e no futuro, passando a
viver somente no presente.
O eterno é a contemplação
profunda do presente. Se fordes capazes de compreender o presente em todo o seu
significado, em toda a sua riqueza, em toda a sua plenitude, tereis compreendido
o tempo na integra e, portanto, estareis para além do tempo. Isto não é mera
teoria intelectual, tem que ser observação, pelo apercebimento. Para chegar a
possuir essa sabedoria, que é maior do que a fé e por intermédio da qual,
somente, podeis manter a vós próprios entre o tumulto da luta, da tristeza e da
dor, tendes que desprender a vossa mente da ideia do atingimento; atingimento
no sentido de aquisição, de coleta, de obtenção. Quando estiverdes libertos da
ideia de atingimento manifestar-se-á a plasticidade da mente, essencial para a realização
a Verdade. Existe aflição para o homem que se apega ao passado e ao futuro
abandonando o esforço no presente, livre das propulsões originadas do intuito.
Quando a mente o coração houverem abandonado a ideia de progresso no tempo, a
qual nada mais é que o prolongamento, a identificação do eu, todo o esforço se
concentra no presente. Esse esforço intensifica-se quando percebeis a causa do
sofrimento — a qual é o eu, o ego — e vos esforçareis por dissipá-la no
presente. O esforço será erroneamente dirigido se visar sondar o passado ou
atingir o futuro mediante a esperança. Deveria antes ser concentrado em tentar
entender o significado de cada pensamento, de cada emoção, de cada ação que
surge no presente. Para, entretanto, tornar este esforço de valor eterno,
necessitais possuir sabedoria, a qual não é atingimento intelectual, a
resultante do conhecimento contido em livros e sim a capacidade de compreender
cada incidente em todo o seu pleno significado, no presente, liberto do passado
assim como do futuro. A consumação da energia, é iluminação.
Krishnamurti de verão em Ommen, 1931