Pergunta: Não parece terdes considerável conhecimento da educação
moderna, de reforma social, ocultismo, ciência física, psicologia moderna, como
também não é de crer que estejais bem informado sobre qualquer outra modalidade
de conhecimento. Como, pois, estais habilitado a ensinar e auxiliar o mundo na
solução dos tristes e difíceis problemas que a humanidade defronta? Porque não
vos interessais por eles?
Krishnamurti: Falo da Sabedoria,
que os inclui a todos. Tomai um ramo de árvore, julgando que a tendes toda. Por
favor, diferenciai entre informações e sabedoria. A informação, o conhecimento
dos fatos ainda que sempre crescente, é, por sua própria natureza, finita. A
Sabedoria é infinita. Se atendestes ao que vos disse esta manhã, vereis que se
os indivíduos buscarem viver de acordo com o que afirmo ser a verdadeira ação e
não fizerem mera teoria a respeito, então neles haverá compreensão de todos os
ramos da vida. Porém, pelo conhecimento de um ramo, jamais podereis compreender
o perfume, a alegria da Vida.
Pergunta: Frequentemente falais da compreensão da Verdade como de um
estado de ser isento de esforço e dizeis que a virtude que requer esforço não é
absolutamente virtude. Qual, então, o lugar do esforço na compreensão da
Verdade? Pode a Verdade ser percebida sem grande esforço?
Krishnamurti: O vosso
esforço está entre os opostos, bem e mal, virtude e pecado. Desperdiçais o
vosso esforço no conflito entre os dois. A virtude que requer esforço é tensão
e cria resistência. Falo do estado espontâneo da mente, liberto dos opostos.
Não busqueis o imensurável, mas fazei grande esforço por vos tornardes cônscios
dos opostos em vós mesmos e só então podereis vos libertar deles. Não ponhais
em luta os opostos, buscando por esse modo conseguir equilíbrio, que meramente
fortalece um dos opostos. Se tendes ressentimento, não o sobrepujais com
bondade, porém libertai a mente da ideia de diferenciação; isto é, procurai
compreender a verdadeira causa do ressentimento, que é a eu-consciência.
Libertai-vos da ideia de virtude, pois que a virtude é um fim, uma qualidade finita,
e todas as qualidades são meras limitações. Libertos, tanto da virtude como do
pecado, compreendereis naturalmente sem esforço o infinito. O que cria os
opostos, é o egoísmo, a ideia de divisão e, por conseguinte, de resistência.
Libertai-vos da ideia de distinção; assim, compreendereis a Verdade, na qual
todo esforço vem a cessar.
Pergunta: Sou um homem honesto, desejoso de trabalhar e ganhar justo
salário. Contudo, há seis meses que estou desempregado, tendo esquecido já o
que seja não ter fome. Disseram-me que nada possuís, mas sois naturalmente
patrocinado por amigos, pois que o vosso semblante é ainda belo e o corpo está
vestido e bem alimentado. Falais da Verdade. Como podeis filosofar, enquanto
milhares de pessoas passam fome? O que significa todo esse falar de Verdade?
Para mim, a Verdade é alimento, trabalho, viver. Despendeis o vosso tempo
falando de certo estado hipotético de consciência. De certo que o homem que se
ocupa do problema dos sem emprego, que ativamente auxilia ao seu próximo, faz
melhor uso do seu conhecimento. Que respondeis?
Krishnamurti: Uma
civilização que tem suas raízes no egoísmo, não pode ser alterada num dia. Necessita
de reeducação. Uma civilização em que os indivíduos primam pela sua atitude
agressiva, deve ser fundamentalmente modificada. Deve ser edificada em
trabalho, em comunidade, onde o indivíduo não encontra expressão para o seu
personalismo, onde a competência individual não tem recompensa; porém, o
indivíduo deve manter a integridade de sua individualidade, inteiramente, para
buscar a compreensão. Tal como se acha, no momento, o homem é egoisticamente
individualista, competidor em seu desejo de consecução, brutal, buscando os
seus lucros egoístas, acumulando, bens, manejando o poder tirânico, tudo isto
criando o último dos caos. Por outro lado, na busca da Verdade, onde ele devera
colocar inteiramente a sua completa individualidade, desta forma libertando-a
de toda eu-consciência, estabelece Redentores, Mestres, crenças, ideais e
autoridades, tudo isto significando a cega dependência. Fortalecei a
individualidade em seu próprio lugar, onde o indivíduo consegue em si mesmo a
completude. Por certo que devemos nos auxiliar mutuamente, viver juntos,
compreender-nos reciprocamente, trabalhar em conjunto. Tudo isto surge quase
que normalmente e sem esforço, quando tiverdes uma compreensão exata da função
do indivíduo.
O que desejo explicar é que cada
indivíduo é completo em si mesmo. Na consecução desta plenitude há a verdadeira
felicidade. Semelhante homem, pois, nunca poderá ser escravo de outro, não tem
crenças, estando em paz rico em seu entendimento, vivendo completamente, no
eterno presente. Assim, ele auxiliará a criar a verdadeira ordem. Estabelecendo
ordem, haverá trabalho, pão e oportunidade para todos, mas sem essa verdadeira
concepção do indivíduo, haverá sempre caos no mundo.
Krishnamurti, 1931