Pergunta: Estarei compreendendo bem ao pensar que em vez de lutarmos
para atingir à perfeição mediante o construir qualidades, deveríamos cessar de
nos esforçar e, ao contrário, tentar viver intensamente cada momento do dia,
esforçando-nos por aprender de cada experiência? Atingiríamos a libertação — ou
algo dela — mais cedo por esta maneira?
Krishnamurti: Imaginais
que por expandir a consciência — consciência que é sempre a autoconsciência do
que é especializado — tornando-a cada vez mais vasta até ela incluir todas as
coisas, vos tornareis livres. Por outras
palavras, pensais que pela glorificação do “eu” haveis de realizar a Verdade.
Por isso lutais para adquirir as qualidades. Dizeis: “Isto é bom, aquilo é mau”;
tais modelos têm que permanecer sempre relativos. A ideia de expandir-se
através de uma série de vidas é uma ilusão; pois que a Verdade, a Vida em sua
perfeição, está sempre presente em todas as coisas, a todos os instantes e não se
realiza pela aquisição das qualidades, das virtudes, dos atributos, porém sim
por dissolver essa consciência que é separação, na qual existe falta de
inteireza e por isso tristeza, dor. Haveis de pensar que isto seja negação. Não
o é. Para vós, o ser positivo é a luta dos opostos; não podeis conceber um
estado no qual não existam opostos porém sim o “ser” contínuo que está sempre
completo, que é positivo, dinâmico. Pelo fato de pensardes que a verdadeira
perfeição não pode ser realizada pelo homem, vós a atribuis à algum ser
super-humano a quem prestais culto. A verdadeira humanidade, essa inteireza
interior, pode ser realizada e para mim
esta é a mais alta Realidade. O homem que ainda está desenvolvendo qualidades,
atributos, fazendo ondular esta batalha constante entre a virtude e o pecado, o
homem que é escravo da paixão, da cobiça, da inveja, da cólera, que cede ao
temor, nada mais é que sub-humano.
Krishnamurti, 14 de março de 1931