O esforço, origem da
inconsciência, é considerado como sendo progresso, crescimento, evolução. O
homem ao fazer esforços, imagina que está alcançando, realizando,
aproximando-se cada vez mais da Verdade. O esforço no entanto, nada mais é que
o apercebimento da individualidade, da separação, da limitação. Toda a
eu-consciência, por grandemente expandida que esteja é limitada, e os
mencionados esforços não levam o homem à realização da Verdade, nem da
serenidade que lhe é inerente. O ser isento de esforço, é perfeição, pois que
neste não existe mais a inconsciência. É preciso, porém, fazer esforços para se
libertar dela, para se libertar dessa tendência organizada por muitos séculos
de tradição, de tomar e de dar, das ilusões oriundas do temor e até do próprio
medo. Este esforço, conscientemente efetuado, tendo pleno conhecimento do
veneno do medo, do veneno do querer e do dar, do veneno do pensamento e emoção
tradicionais, libertará o homem da inconsciência. É este o genuíno esforço que
conduz a realização da Verdade.
O homem de caráter não se acha
mais perto da verdade do que o homem desprovido de caráter. Cada qual está
preso em sua própria inconsciência e a inconsciência é a antítese da Verdade.
Libertai-vos do caráter bem como da falta de caráter. Nem o homem da virtude,
nem o do pecado estão perto da Verdade; só está perto da Verdade quem se
liberta de ambas as coisas.
Quando o sensualismo e os vãos
desejos são profundos são rasas as chamas da Felicidade.
O institucionalismo em face do
qual o homem se torna em nada mais que uma máquina para servir a uma ideia,
seja ela verdadeira ou falsa, faz com que ele perca toda a retidão; e daí nasce
o ritualismo. As cerimonias destroem o amor e a sensatez dos homens. As
organizações — que não se devem confundir com aquelas que existem apenas para conveniência
do homem — pervertem o pensamento e corrompem o amor e a benevolência. A
felicidade está dentro do homem. A verdade, em toda a sua completude, nele está
oculta. Não vos torneis, pois, escravos do institucionalismo, nem das
cerimonias, nem do culto ou da congregação de vãs persecuções.
A justiça é uma atitude digna, de
equilíbrio impessoal, a qual não é nem indiferença, nem julgamento leviano, nem
fria condenação, e perante a qual o julgamento de outrem cessa por completo.
Não vos regozijeis com o
infortúnio de outrem, pois que este atingirá também os homens que se achem
ainda cativos da tristeza e da alegria.
O homem é influenciado por coisas
exteriores tais como o clima, o alimento, as circunstâncias da vida, assim como
também pela tradição e a autoridade. Quando o temor predomina, pouco lugar fica
para a liberdade de pensar, para a incorruptibilidade do amor. O homem covarde
torna-se irrefletido, desapercebido de seu propósito, e seu amor destilará
tristeza. Será presa da confusão.
O homem, porém, que se acha livre
do medo, posto que se submeta às coisas externas, permanece isento da
influência delas, livre em seus pensamentos e puro em seu amor.
Tal homem gozará de harmonia
interna e por isso, compreenderá a Verdade.
Extraído do livro de notas de Krishnamurti