Tenho observado pessoas em todas
as condições de vida e as tenho encontrado cativas das circunstâncias em que se
encontram, cativas de suas crenças. Eu as tenho visto colhidas pelas religiões,
pelas riquezas, pelos temores — acreditando serem essas coisas necessárias ao
preenchimento da vida.
Eu as tenho contemplado em meio
de seus trabalhos; e em seus corações não há contentamento, nem grandeza em
suas mentes.
E desse para mim próprio: tudo
isso são modalidades segundo as quais se criam as complicações. Deve haver uma
via simples, uma via direta.
Essa via eu a encontrei, e
quisera mostrar-vos-á.
Não encontrareis a Verdade pela
dependência em apoios exteriores, não pelo confiar em religiões, em preceitos
de comportamento, em leis de retidão e de moral. Porém, sim, apenas pelo
desenvolver vossa inata força interna é como percebereis.
Por muito tempo vos haveis
apegado às autoridades, às crenças; por muito tempo já haveis lutado. E, no
entanto, não sois ainda felizes. Tendes tido as vossas religiões, as vossas
cerimonias, os vossos livros, as vossas maneiras complicadas de encarar a vida;
estas coisas, porém, não vos trouxeram felicidade. E agora eu vos digo:
experimentai o meu caminho.
Deveis cultuar aquilo que é
incorruptível. Deveis dar vosso amor àquilo que está além da estagnação.
Que há nisto que causa temor? Que
há aí que possa causar desentendimento? Com todas as vossas crenças, os vossos sistemas,
as vossas cerimonias e os vossos deuses, não sois felizes. E, no entanto,
atemorizai-vos de abandoná-los.
Se vossas crenças podem ser
despedaçadas, não são dignas de serem conservadas. Se vossos sistemas são tão frágeis
que não podem resistir a tempestade da dúvida e da tristeza, merecem morrer.
Verificai se há dentro de vós o
êxtase de propósito e o poder de criar no eterno. Se não tiverdes dentro de vós
o intenso desejo de libertação, vós assim como as vossas obras mais não serão
que sombras passageiras.
O que digo, não o digo com
rudeza. Dado, porém, serdes infelizes, eu quisera mostra-vos o caminho da
felicidade.
Sede responsáveis perante vós
mesmos por todas as vossas ações. Não busqueis abrigo na autoridade exterior. Mantende-vos
com vossos próprios pés. Para poderdes dar preenchimento à Vida, passai além de
toda a experiência. Para poderdes ser grandes no amor, guardai afeto em vosso
coração para com todas as coisas.
Krishnamurti, agosto de 1931