Pergunta: Compreendemos bem que o sofrimento e a dor sejam partes
necessárias da experiência. Uma vez reconhecidas como degraus para a Libertação,
perdem elas muito de sua agudeza e podem, mesmo, tornar-se agradáveis para
atingir a um grau. Dizer, porém, que elas podem permanecer unidas a um
indivíduo liberto como vós, é desanimar a muitos dos ardorosos pesquisadores da
Verdade. Não estais vós, em certa medida ligado pelo karma como todos nós, o
estamos pois que às vezes vos sentis também indispostos? Não será vossa
perfeição meramente relativa, dado excluir o corpo físico? Qual o valor da Libertação
se ela fracassa no destruir as limitações? Terá a completa libertação de
sofrimento que ser postergada para a vida que está para além da morte do corpo
físico?
Krishnamurti: Pertença a quem pertencer, o corpo, constituído
de muitos elementos, está continuamente exaurindo-se e não podeis impedir isto.
Um corpo formado de muitas partes componentes, gasta-se e a seu tempo morrerá,
porém isto não significa que não vos devais esforçar por possuir um corpo
físico forte e saudável. Eu tenho o corpo que me é necessário, aquele de que
preciso.
Poderia ser melhor, porém sou de
hereditariedade pobre, tive uma infância destituída dos cuidados necessários.
A Libertação é a liberdade de
todo o sentimento do “Eu”, a liberdade da mente, a liberdade da ação. Entendo
por karma, a ação, a conduta baseada
na eu-consciência, no presente, que liga. Eu não baseio nisto a minha ação,
portanto estou liberto do karma.
Posso sentir dor, se me cortar, porém isto não é karma, nem, portanto, liga. O homem liberto ainda possui corpo, o
qual naturalmente se gasta pouco a pouco, envelhece e, a seu tempo, morre. Ele
sabe disto e esforça-se por mantê-lo saudável enquanto dura, porém toda a sua
energia se acha concentrada nessa tranquilidade que provém da liberdade de toda
a eu-consciência. Isto é Libertação, liberdade de ação. Muitas pessoas tem
feito a pergunta de se a Libertação somente é possível quando o corpo se torna
durável para sempre. Uma coisa transitória jamais pode se tornar permanente.
Não podeis imortalizar o corpo.
Krishnamurti, 4 de agosto de 1931