Pergunta: Dizeis que a Vida não tem qualidades. Poderíamos dizer também
que a Vida possui ou inclui todas as qualidades, porém não uma aqui outra além.
Krishnamurti: Qualidades,
virtudes, distinções, são coisas que reunidas criam o “eu”. Encaramos a vida
através desta consciência de distinção, dos opostos da virtude e do pecado, do
bem e do mal, de rico e de pobre, de apego e desprendimento, de salvação vinda
do exterior e de salvação a partir do exterior. A luta dos opostos cria em nós
a ideia da existência individual separada. Este “eu” necessita de distinções
para conhecer-se como separado e por isso é que perguntais: “Tem a vida, por
acaso, qualidade, ou não as tem?” Ora, para mim, a vida, não é um conjunto de
qualidades. Enquanto estiverdes prisioneiros da autoconsciência, necessitais
dar colorido, qualidades à Vida. Se, porém, fordes inconscientes, isto é,
irresponsáveis, nesse circulo de eu-consciência, jamais podereis realizar essa
plenitude, essa completude que não conhece distinções de nascimento e morte, de
tempo e espaço. A transitoriedade é a base genuína da autoconsciência, da “eu-dade”,
do ego, da personalidade. A realização dessa completude, dessa eternidade, vem
a ser a única coisa que assegura a imortalidade.
Krishnamurti, 30 de julho de 1931