Pergunta: Oh! Krishnaji! Tu nos levaste a todos a acreditar em 1926 que
estávamos procurando a felicidade, em 1927, a libertação, em 1928, a Verdade e
em 1929, a unidade; em 1930 haveis despedaçado as nossas crenças na
reencarnação, nos mestres, nos salvadores, e falais agora de eliminação do “eu”,
do ego, de um estado isento de nascimento e morte, de uma vida que parece ter
um significado para vós, porém que não o tem para nós outros. E, apesar disso,
falais de atingimento, de culminância. Tem, por consequência, vossa realização,
um caráter progressivo — progressivo no sentido de que tendes muito a dizer
ainda e, portanto, vossa mensagem está agora passando por um estado de
incompletude para chegar à completude?
Krishnamurti: Em 1926
realizei algo; que é último, fundamental, que não possui direção. Por Favor,
compreendei: isto não se trata de progressivo, porém sim de algo que é
absoluto, posto que não seja uma finalidade; é um constante renovar, pois que é
a própria Vida; é um vir a ser isento de tempo e que não pode ser medido por
meio das palavras. Se examinardes minhas palavras cuidadosamente, verificareis
que já tentei descrever esta minha realização por diferentes termos; não é uma
realização progressiva, que, como pensais, virá a tornar-se completa. Pode-se
desenvolver uma boa técnica de expressão, porém a realização será sempre
incompleta. Talvez me façais esta pergunta por alimentardes também a esperança
de que algum dia retornarei à Teosofia. Muitos de meus amigos me têm dito: “a
seu tempo voltareis a nós” — tal como um amigo meu, hindu, na Índia, me disse —
“a seu tempo voltarás ao Hinduísmo”. Cada homem tem algo por caro e diz que a
seu tempo a isso voltarei. Ora, como o tenho repetido, mais de uma vez, nada
posso dizer acerca do Hinduísmo, da Teosofia ou do Budismo. Quando digo que as
crenças que adotais são radicalmente opostas àquilo que eu digo, não quero
dizer que pretendo estabelecer um novo oposto. Pelo fato de pretenderdes
permanecer em acordo com as vossas ideias tradicionais, já firmadas, pelo fato
de vos sentirdes felizes em vossa auto-decepção inconsciente, escolheis as
frases que se adaptam ao vosso secreto desejo. O que eu digo é completa,
diametralmente oposto à eu-consciência, seja qual for a forma que ela por si
mesmo se expresse. Se todos morássemos juntos, talvez vos pudesse transmitir o
entendimento da Verdade sem palavras nem atos; como, porém, não podemos viver
todos juntos, tenho que a transmitir por meio de palavras.
A Verdade é progressiva, não tem
tampouco direção; é constante, sempre renovada, está para além do tempo e do
espaço, do nascimento e da morte. É a nossa falsa concepção nascida da vaidade
e do interesse pessoal que nos faz pensar que estamos progredindo, crescendo,
tornando-nos cada vez mais maravilhosos. A mente e o coração devem estar
libertos de todo o sentimento de atingimento, de progresso, e nesta liberdade
da eu-consciência encontra-se a plena realização da completude, a Verdade.
Krishnamurti, 3 de agosto de 1931