Ao revolver as águas lamacentas e
deixa-las assentar, tornam-se elas novamente límpidas. Quando, pelas tardes, vos ajuntais
ao redor da fogueira do acampamento, ficais tranquilo e límpidos, afim de que a
paz que já oculta em obscuridade, possa revelar-se. Quando ficais assim,
internamente tranquilos, haveis de verificar que vos tornais como nada.
Após a confusão do contenda
diária e do conflito diário, do esforço diurno, quando serenamente vos vindes
sentar, haveis de chegar a conhecer uma vacuidade, como se fosse o nada e,
nessa vacuidade, é que a Realidade se revela. Esta tranquilidade, é como a do
nada, é a felicidade; não é a felicidade originada do contraste com a tristeza.
Somente a esta felicidade podeis chegar se tiverdes passado através de grandes
lutas, de grandes conflitos, de grandes emoções e grandes alegrias. E, se
possuirdes a capacidade de recolher toda a experiência nessa tranquilidade,
nela encontrareis o êxtase do absoluto apagamento. Não constitui isto negação,
porém sim, uma tranquilidade que vos permite o estardes completamente
equilibrados. Portanto, durante este campo de fogo, deixai que a poeira e a
confusão se assentem no fundo. Não é pelo mero sufocar e dominar a mente que
haveis de possuir a limpidez das águas correntes, porém sim pelo serdes ativos
e plácidos, é como chegareis a alcançar a capacidade de realizar a quietude.
Não é por meio da meditação violenta que haveis de chegar a encontrar essa
tranquilidade da “nadidade”, porém, pelo estardes profundamente apercebidos é
como podereis chegar a essa felicidade de que falo, bem como o lótus que abre
seu coração à tranquilidade da tarde. Portanto, no decorrer destes dias, pensai
bastante e não vos atemorizeis pela confusão que surgir dentro de vós próprios.
Na claridade que se segue à confusão é que haveis de verificar que toda a
obscuridade, todas as decepções, todos as desilusões se esvaecem, quando fordes
como “nada” contereis o perfume da completude.
Krishnamurti na fogueira do
acampamento, 29 de julho de 1931