Pergunta: Dizeis que em tudo a Verdade está já completa, integral, e
que o tempo e evolução, mais não são que ilusões. Não será, porém, verdade que
um certo grau de evolução tem de ser atingido antes que se possa começar o
entendimento da Verdade? Por outras palavras, até certo ponto, não será a
experiência realizada no tempo, colhida através dos sentidos e da mente, uma
necessidade absoluta?
Krishnamurti: O tempo,
para o indivíduo, nada mais é do que a continuidade da eu-consciência. O “eu”,
pelo fato de estar colhido por esta ilusão da eu-consciência, que é a fonte da
tristeza, por querer evitar esforço grande e sustida diligência, para o
apercebimento, pela ânsia de continuidade, cria a ilusão de duração. E na
duração existem o “eu” e o “tu”, criados pela eu-consciência que é a mente. Quando me sirvo da palavra “mente”, por
favor, não façais divisão entre mente, emoções e corpo é a coisa integral que
eu procuro referir-me, estou dividindo somente pela
conveniência vossa. Não sistematizeis agora, e não digais: “Oh! Sim,
é o corpo que sente, são as emoções que sentem, a minha mente acha-se
completamente livre”. Isto é falso, deveis olhar ao conjunto, afim de
vos poderdes libertar da eu-consciência. Deveis ter a capacidade de sentir com
grandeza, porém sem que esta capacidade crie o “eu”. Esta capacidade de sentir
não deve perturbar a tranquilidade do vosso mental. Começai por estar
absolutamente insatisfeitos, descontentes, não
com o vosso próximo, porém convosco mesmos. Precisais sentir com
grandeza, necessitais pensar com profundeza, porém esse “eu”, que adora domina,
que controla e guia, não mais deve existir.
Krishnamurti, 31 de julho de 1931