Pergunta: Dizeis que, se eu quiser criar com grandeza necessito de
estudar a Vida e não meramente as suas expressões. Possivelmente não se
consegue estudar a Vida por um processo intelectual da mesma maneira pela qual
se estudam as suas expressões. Há outra maneira de estudar a Vida?
Krishnamurti: Sois
arrastados pelas meias expressões da vida, e ficais na ignorância da Vida em si
mesma. Compreender a Vida é pensar e sentir com grandeza, é libertar-se da
eu-consciência. Se dependerdes das expressões, perdereis o pleno significado da
Vida. Se amardes alguém, preocupar-vos-eis com a pessoa, antes do que com o
amor. Quando amardes intensamente a alguém, nesse amor o “tu” e o “eu” não têm
realidade.
O amor não está ao arbítrio das
pessoas. Portanto, limpai vossa mente de todas as distinções, de todas as
ideias de “teu” e “meu”, de todas as vaidades e então o amor será sereno em vez
de ser, como presentemente o é, um fardo despedaçador, lancinante, violento,
repleto de lágrimas. Atemorizai-vos do amor. Se, porém, varrerdes da mente
todas as ilusões, haveis de verificar que, posto que a forma exista, vosso amor
será independente, impessoal. Para a
maioria das pessoas, o amor é apenas uma sensação e, portanto, dizem: “Cedamos
livremente à sensação”. Isto dá lugar à licenciosidade e chamais a isto amor
livre. Vivei com a vossa própria intensidade de ajuste e não em virtude de a
isso vos propulsionar eu aqui; pois que da minha insistência tão somente, não
extraireis beleza nem tranquilidade. É pelo vosso próprio esforço, pelo vosso
pensamento constante, pela vossa própria luta, pelo vosso contínuo ajuste entre
a bondade e o amor, o pensamento e a sensação, que chegareis a essa infinitude
da solidão que não mais se acha sobrecarregada pelo medo, e sim cheia de
êxtase.
Krishnamurti, 30 de julho de 1931