Pergunta: Dizeis que na Verdade não existe nem objeto nem sujeito.
Percebo que deva ser assim, porém não posso ter uma concepção clara do que seja
um tal estado de percepção. Se for possível, por favor, descrevei com mais
plenitude vossa própria percepção da Verdade tanto em essência como na forma — e
as relações entre ambas as coisas.
Krishnamurti: Em primeiro
lugar, eu quis dizer que a Verdade não é “minha”
nem “vossa”, nem de vossa nem de
minha percepção. A Verdade é completa e eterna, não se pode acrescentá-la nem
diminuí-la, nem para ela existe caminho. A ideia de vosso e meu caminho, a
ideia de muitos caminhos somente existe na eu-consciência. A Vida é essa
essência comum na qual todas as coisas se movem e tem seu ser. O “eu”, cuja
raiz é a eu-consciência, divide a Vida em matéria e espírito, em finito e
infinito e, com mente finita, cuja preocupação primordial é ela própria,
esforça-se por medir o imensurável. Eu vos digo que, se pretendeis realizar a
Verdade, tendes que lhe dar toda a vossa energia e não somente os vossos momentos
de lazer nos quais discutis sistemas filosóficos. Para lhe poderdes dar toda a
vossa vida tendes que alterar as circunstâncias dela e não remenda-la aqui e
além, o que nada mais é que perda de tempo. Isto não vos conduzirá à liberdade
última que é a da eu-consciência.
Krishnamurti, 30 de julho de 1931