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domingo, 7 de agosto de 2016

O “eu” é a causa e o paciente da tristeza

Ansiamos pela continuação de nós próprios, após a morte, ou então deseja-se o aniquilamento. Eu, porém, mantenho que para a realização da completude, a ânsia pela continuidade ou o desejo de aniquilamento não têm significação no que se refere a busca da Verdade. A individualidade tem que forçosamente murcha-se como murcha uma flor e é em virtude do temor da morte, que vos apegais a personalidade, ao vosso ego. Para vós, a morte é, ou aniquilamento, ou a continuidade em outro plano. E por desejardes continuar com vossa eu-consciência, pensais que é necessário adquirir qualidades, virtudes, poderes. Há dois opostos em vossa mente: a morte como aniquilamento total, da qual alguns dentre vós gostariam e a continuidade do ego, do indivíduo, através do tempo, coisa que ainda outros gostariam.

Tendes portanto, dois opostos, a continuidade e o aniquilamento. Agora, quero demonstrar-vos que nenhuma destas coisas é verdadeira para a realização da completude, e essa completude, a Realidade, esse êxtase indizível, esse vir, a ser isento de tempo que é como nada e no entanto é tudo, não reside em nenhum dos opostos. A realização dessa completude, que está em toda a coisa, a todo o instante, proporciona a libertação do nascer e do morrer. Portanto, não tomeis o que vos vou dizer esta manhã sob o ponto de vista dos opostos — do nada, do aniquilamento, ou, como sendo tudo, da continuidade. Na persecução dos opostos, sejam eles quais forem, não chegais à plena realização da completude. Se me é dado sugeri-lo, libertai a vossa mente da ideia, seja da reencarnação, da continuidade ou do aniquilamento.

A causa e o objeto do sofrimento são o “eu”; é o “eu” que sofre, é a consciência da separação que causa o sofrimento e esta consciência da separação é ela própria, o objeto do sofrimento. É este o início do conhecimento, do meu ponto de vista e este sofrimento continuará a existir, enquanto houver a consciência do “eu”, por aperfeiçoado, por glorificado, por expandido que seja. A causa e o objeto de vosso sofrimento são a autoconsciência de vós próprios como ego, como personalidade, como individualidade. Sirvo-me das palavras ego, personalidade, individualidade, eu-consciência, como sendo uma só.

A partir do momento que alcanceis a compreensão deste principio fundamental: o de que o “eu”, por aperfeiçoado, por expandido que esteja, continua a ser causa e paciente da tristeza, encontrareis a harmonia da vida; ao passo que, sem este conhecimento, há completo desvio e confusão. Enquanto existir o “eu” há corrupção, há confusão e tristeza. Pela compreensão deste e não mantendo-o é como o homem pode chegar à realização dessa Realidade última que é a completude. Não por meio da destruição das emoções, não pela irreflexão, mas, pelo entendimento, eis como podereis chegar àquela plena realização, na qual não existe morte. É um renascer, um constante renovar, uma primavera eterna e não o renascimento que parece nascer e morrer.

Para podermos compreender a causa e o objeto do sofrimento, averiguemos o que é o “eu”. Este meu corpo tem suas sensações, seu ouvido, sua visão, seu olfato, seu paladar e seu sentir. A este agrupamento denominamos sensação. Depois vem a percepção, o poder de criar imagens, a imaginação. Vem a seguir a mente que pensa, e vem a consciência. Faço divisão destas coisas por conveniência, não para criar um novo sistema. Todas elas: corpo, sensações, percepção, pensamento, consciência, chegam à criação do “eu”. Não é o “eu” quem os cria, não é o “eu” que pensa, que sente, que percebe, que é consciente. O “eu” inicia o seu inquirir, separar, conservar e mediante este colher e reter, a eu-consciência é criada. Portanto, toda eu-consciência é aquisição.

O “eu” não existe por si mesmo, existe somente em virtude da sensação. Para mim não há “eu”; há, a apenas, sensação, corpo, percepção, pensamento, consciência, que criam o “eu”; e por ter de viver na separação, este “eu” necessita adquirir, possuir. Portanto, a consciência, este “eu”, precisa reter, empolgar, adquirir e, como oposição a isto, a morte afigura-se o aniquilamento. Ora, este “eu” que adquire, que retém, supõem que, pelo acumulo de coisas, alcança a felicidade, a completude. Por meio deste desejo de aquisição firma ele a ideia de continuidade e a do temor do aniquilamento. Portanto, o “eu” é criado pela mente, o “eu” não existe por si mesmo. Para seu bem estar, para manutenção de sua separatividade, exige ele a padronização do pensamento, com tudo que lhe é implícito e evita todas as mudanças. Vem a seguir a padronização moral, as leis fabricadas para opor empecilhos ao “eu”, para impedi-lo de se tornar demasiado cobiçoso na aquisição, e é daí que surge o medo, o medo desse pensamento independente que leva o homem a se tornar lei para si próprio.

Naturalmente, de tudo isto, provem a ênfase da individualidade, por coloca-la em lugar errôneo; isto é, imaginais que, pelo fato de o indivíduo estar separado e a característica da individualidade ser aquisição, tendes que fortificar essa qualidade de aquisição pelo trabalho. Imaginais que por meio do trabalho alcançará ele cada vez maior soma de coisas para si e se tornará mais rico em qualidade, amizades e objetos. É dada ênfase ao lucro do indivíduo por meio do trabalho. O trabalho deve ser coletivo, não individualista. Deve dar-se o plano do trabalho cooperativo para todos e não para um indivíduo somente. Devemos arquitetar planos em conjunto para toda a humanidade e nisto não deve existir separação de países, nacionalidade e povos.

Por outro lado, vê-se que o indivíduo necessita libertar-se por meio de seu próprio esforço, do seu “eu” que é autoconsciência. Para isto, não pode haver autoridade — posto que a haja no trabalho. A autoridade deve achar-se em espera reta e não em errônea como se acha no presente. Possuis uma autoridade espiritual, isto é, acompanhais a alguém, um salvador, um guru. Não pode haver autoridade na direção da liberdade de consciência, pois que a Verdade é pura percepção individual e nesta percepção precisais tornar-vos lei para vós próprios e não podeis seguir a outrem.

Pela falsa ênfase que é dada à individualidade, vem a existência a ideia, seja do aniquilamento, seja da continuidade. A mente está a todo o instante preocupada com o “eu”, sobre se o “eu” existirá para sempre, se o “eu” tem posses bastantes, bastante poder, glória, conforto — a todo o instante agarrando, adquirindo, crescendo, e esta espécie de crescimento acha-se inteiramente baseada na sensação. O “eu” existe naquela consciência que depende da sensação, e por isso a mente ocupa-se com todos esses anseios; e imaginais que quanto mais adquirirdes, mais felizes sereis. Examinais vossos sistemas de vida e verificareis que se acham baseados nisto. Enquanto estiverdes colhidos por essas divisões do “vosso” e do “meu” haverá muitas maneiras de vos enganardes a vós mesmos. Quando, porém, a mente libertar-se do “eu”, poderá ela começar a se renovar por si mesma, a se recriar a si própria.

Repito que o começo do conhecimento consiste em saber que a causa e o objeto do sofrimento são o “eu”. Quando não mais encarardes a vida a partir do ponto de vista do “eu”, não mais haverá opostos, nem aquisições, nem perdas, nem destruição, nem construção, nem continuação, nem aniquilamento, nem posse, nem renúncia, nem apego, nem desprendimento.

A mente deve ser tornada livre, porém o medo de libertar-se a eu-consciência do “eu” não é fazer a mente esquecer do “eu”, interessando-a por qualquer outra coisa — é então que começais a fazer a meditação, a ter autoridades, trabalhos, serviços. Não quer isto dizer que não devais servir; quando, porém, vossa mente estiver liberta da eu-consciência, servireis e auxiliareis por maneira natural, com graça e eficiência.

O verdadeiro entendimento é a liberdade da eu-consciência. Não penseis que haveis de chegar a poder realizar a liberdade última da eu-consciência, sem primeiro haver passado através da chama da eu-consciência. É por meio do sofrimento e pela dor, pelo prazer, tornar-se responsável perante si mesmo, que o indivíduo compreende a Realidade última que é a liberdade da consciência, que é a liberdade da responsabilidade. Então haverá lugar o apagamento absolto do “eu”, como indivíduo; ficará somente a completude, e essa completude é sempre existente, permanente, não no tempo, mas por si mesma. Precisais libertar a mente de todo o apego. Não podeis liberta-la buscando o refúgio no oposto. Em vossa pesquisa para serdes completos, o desapego vem naturalmente, não em vossa luta artificial contra o apego. Desapego não é indiferença. É nada mais que o início do conhecimento da autoconsciência.

É o “eu” que divide a vida. A mente, em si própria, é consciência, em sua separatividade, divide a vida. Não podeis matar o sentimento, afim de libertar a mente. Se estiverdes em busca da completude — não a completude que se opõem à incompletude, porém a completude que é, por si, sua própria eternidade — então sobreviverá a cessação dos opostos. A mente, não mais estará ocupada com o tempo, encarado este como progresso em direção à Realidade, em direção à completude.


Quando a mente estiver liberta de todo sentimento de atingimento, de progresso, de opostos, ou de sensações, então dar-se-á o começo da verdadeira solidão. Não a solidão que se opõem à multiplicidade; a verdadeira solidão não conhece isolamento. Nessa solidão, surge a tranquilidade. Posto que ainda reflita, ainda examine, ainda escolha, haverá apesar disso, harmonia. A mente tem de ser veloz como a água que corre e que, portanto, não pode estagnar-se. Quando a mente se achar assim, liberta, haverá harmonia, e, por essa harmonia, dar-se-á a realização plena dessa completude de que falo, na qual não existe nascimento nem morte, aniquilamento ou continuidade. Estando-se completo, não mais estará sujeito às leis do tempo.


Krishnamurti, 1 de agosto de 1931                
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill