Tenho estado a vos falar acerca
da luta pela Verdade, e do grande esforço que é necessário fazer para consumar
sua realização. Porém, na realidade, não há luta nem esforço, nem fadiga nem
embate, porém somente a compreensão dessa Realidade essencial, que existe em
todos os incidentes da vida diária. A Verdade só pode ser realizada por meio da
tranquilidade da mente, quando entendi dizer o que era a Realidade última, e
então toda a minha atitude em face da vida mudou. Eu recriei, reorientei a
minha vida ao libertar-me. Para mim, a meta da vida, é ser completo, portanto,
a mente não mais está confusa e amedrontada pelas ideias, pelas opiniões, pela
vontade e a imaginação. Logo que começais a lutar por algo, ela se escapa, e
vos foge. Não é pela luta e pela tentativa, porém sim pela eliminação completa,
pelo despirmos de todas as coisas, — bens e sensações — mediante o entendimento
de todas essas coisas e portanto pelo libertar-se delas que se realiza essa
tranquilidade que é sabedoria; e essa sabedoria é felicidade. O homem que quiser
buscar essa sabedoria não luta, não faz esforços em direção ao futuro, porém
tenta compreender o imediato, no qual está contida toda a significação da Vida.
Para consumar a realização desta
completude, não luteis em prol do último, porém, esforçai-vos por compreender
por meio da liberdade que não é esforço. Por compreender o imediato chegareis a
entender o último; pelo viverdes no presente entendereis essa Realidade que não
tem passado, presente, nem futuro. A mente deve estar liberta de todo o
sentimento de luta, de comparação e de combate; e quando a mente assim estiver
livre, por meio da compreensão do presente, realizareis esse estado que é
tranquilidade, que é contínuo renascer, um vir-a-ser isento de tempo.
Krishnamurti, 4 de agosto de 1931