Pergunta: O que entendeis por “ajuste”, não me parece bastante claro.
Podeis, por favor, fornecer-nos a respeito alguns exemplos práticos? Quem vem a
ser exatamente, apercebimento de si próprio?
Krishnamurti: Se amardes
uma pessoa e averiguardes que essa pessoa vos não ama por seu turno, nasce em
vosso coração o ciúme, a inveja e o desejo de averiguar quem foi que vos
suplantou. Ora, o ajuste consiste em verificar o inevitável, isto é, que
precisais amar sem exigir ou pedir coisa alguma em troca. É isto o inevitável,
e para o homem que cede ao inevitável, não existe luta. Se pretender ganhar, receber,
guardar, e outra pessoa vos não der aquilo que desejais, manifesta-se o
conflito, o esforço, não mais existe auto-recolhimento, porém, sim, meramente a
luta, a contenda. O auto-recolhimento é ver o inevitável e ajustar-se a ele.
O inevitável não é meramente aderir
em sensações e anseios, coisa que nada mais faz que conduzir à licenciosidade, à
dissipação da energia. O inevitável, para mim, no caso do amor é ele ser completo
em si mesmo; portanto, ceder a essa inevitabilidade não mais será esforço.
Tendes, porém, que percebe-lo em primeiro lugar, tendes, em primeiro lugar, que
averiguar se o vosso secreto desejo está operando no sentido dessa
inevitabilidade. Então, não haverá luta; se, porém, não nutrirdes desejo pelo
inevitável, não haverá luta, não haverá esforço. Portanto, para realmente
estardes auto-apercebidos, averiguai qual a secreta persecução de vosso desejo
e buscai saber se esse desejo vos conduz ou não ao inevitável.
Krishnamurti, 3 de agosto de 1931