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segunda-feira, 9 de abril de 2018

Compreendendo o mecanismo da mudança

Compreendendo o mecanismo da mudança

Em nossa última reunião dissemos que seriedade é aquele impulso, aquela intenção de “ir até o fim das coisas”, para descobrir-lhes a essência; e se não existe essa energia impulsora que nos estimula a descobrir o que é verdadeiro, acho que estas palestras terão muito pouca significação. É pena termos de falar em tão linda manhã, mas desejo examinar a questão da humildade e do aprender.

Por humildade, não entendo naturalmente aquela pretensiosa vaidade que se cobre com o nome de “humildade”. A humildade não é virtude; porque tudo o que cultivamos, extraímos penosamente de nós mesmos, disciplinamos, controlamos, é coisa falsa. A humildade não é coisa que se semeia para colher; ela tem de surgir na existência. E não é a subjugação daquele desejo que busca seu preenchimento no êxito. Não é tampouco a humildade religiosa do monge, do santo, do sacerdote, nem aquela que se produz pela austeridade cultivada. É coisa inteiramente diferente. Para a experimentarmos realmente, penso que temos de “ir até o fim”, de modo que todos os recantos da mente, todos os recessos obscuros, secretos, ocultos, do coração e da mente, fiquem abertos a essa humildade, dela se embebam. E se desejamos desvelar a verdadeira essência da humildade, importa considerar o que é aprender.

Aprendemos, de fato, alguma vez? Não é mecânica a nossa instrução? Aprender, para nós, é um mecanismo de adição, não achais? Esse mecanismo de adição constitui um centro, o “eu”, e este centro experimenta; e a experiência se torna memória — é memória; e a memória dá colorido a todas as experiências ulteriores. Ora, aprender é mecanismo de acumulação, como o é o conhecimento? E se há mecanismo de acumulação de experiência, conhecimento, ser e “vir a ser”, existe então humildade? Se a mente está repleta de conhecimentos, de experiência, de memória, ela de modo nenhum pode receber o novo. Não é, portanto, necessário o total esvaziamento da mente, para que possa surgir o atemporal? E não implica isso total e completo sentimento de humildade, um estado em que a mente não se esteja “tornando alguma coisa”, não esteja acumulando, já não esteja buscando ou aprendendo?

Eu quisera saber se temos aprendido alguma coisa. Nós temos acumulado; temos tido numerosas experiências, numerosos acidentes ocorreram, deixando-nos suas marcas e ficando armazenados como lembranças. Posso aprender uma nova língua, aprender uma nova maneira de explorar os espaços; mas tudo isso são mecanismos acumulativos, mecânicos, a que chamamos “aprender”. Ora, esse “mecanismo” de aprender deixa um centro, não é verdade? E esse centro acumulador de conhecimentos, experiências, resiste, deseja ser livre, afirma, aceita e rejeita, está sempre empenhado numa batalha, sempre em conflito. E é esse centro que está sempre a acumular e a esvaziar-se; há o movimento positivo de aquisição e o movimento negativo de rejeição. A esse mecanismo chamamos “aprender”.

Se me perdoais dizê-lo, estou bem certo de que desejais aprender algo deste que vos fala. Mas nada podeis aprender de mim, porquanto só podeis aprender coisas mecânicas, como ideias. Mas nós não estamos tratando de ideias; não estamos interessados na descrição de qualquer outra coisa; o que nos interessa é o fato, “o que é”. E compreender “o que é” não constitui processo mecânico, nem mecanismo de olhar as coisas com o fim de acumular, nem mecanismo de acrescentar ou tirar algo ao centro. É partindo desse centro, acumulado através de séculos, condicionado pela sociedade, pela religião, pelas experiências, pela educação, que estamos sempre procurando fazer modificações. Funcionando nesse centro, procuramos alterar nossas qualidades, modificar nossa maneira de pensar, implantar novo sistema de ideias e abandonar o velho. Esse centro, pois, está sempre procurando reformar-se ou destruir-se, a fim de obter outra coisa; e é isso o que estamos fazendo continuamente.

Tende a bondade de prestar atenção: Esse centro é o que chamamos “ego”, “eu” — ou qualquer nome que preferirdes. O nome é sem importância, mas o fato é importante, pois é “o que é”. E no mecanismo de modificação há violência. Toda alteração implica violência, e pela violência nada de novo pode surgir. Quando uma pessoa diz: “Preciso controlar-me, preciso dominar-me” (o que significa ajustar-se a um padrão), isso implica violência. Os santos, os líderes, os instrutores, os profetas — todos falam a respeito de mudança e controle. E, evidentemente, o mecanismo pelo qual o centro se disciplina para ajustar-se a um padrão, implica violência. E quando falamos de “não violência”, isso significa a mesma coisa.

Mudança, portanto, implica violência, dentro da esfera do tempo — “eu sou isto e vou obrigar-me a ser aquilo”. O “aquilo” está distanciado de nós: é o ideal, o exemplo, a norma. Nesse processo de tentar transformar a violência em paz, está, inteiramente, o conflito dos opostos. Assim, quando dizemos: “Preciso aprender tudo o que me diz respeito”, estamos ainda enredados no mecanismo de acumulação, o qual só serve para fortalecer o centro. Pode-se, pois, ver, não apenas verbalmente, intelectualmente, mas experimentar realmente o fato de que onde existe um centro a exigir mudança (e isso implica violência) nunca haverá paz.

Para mim, portanto, não há aprender; só há ver. Ver não produz acumulação; não é mecanismo de recolher ou rejeitar. Ver “o que é” tem efeito destruidor; e da destruição surge a paz, e não a violência. Existe violência, revolução ou modificação, no mecanismo de acumulação, da manutenção do centro. Mas, quando percebemos esse mecanismo total e completamente, com todo o nosso ser, então o fato — o que é — é radicalmente destrutivo; e destruição é criação.

A humildade, por conseguinte, é o estado em que a mente abandonou de todo o mecanismo de acumulação e o seu oposto, e está apercebida, de momento a momento, do que é. Portanto, ela não tem opinião nem juízo formado; e essa mente sabe o que é liberdade. A mente senhoreada pela violência não tem liberdade; e a mente que busca a liberdade nunca será livre, porque, para ela, liberdade significa mais acumulação.

A humildade implica destruição total, não das coisas externas, sociais, mas a dissolução completa do centro, do “eu”, de nossas ideias, experiências, conhecimentos, tradições — com o que a mente se esvazia de tudo o que já conhece. Por conseguinte, essa mente já não pensa em termos de modificação. Isso é realmente uma coisa maravilhosa, quando se é capaz de senti-la. E isso faz parte da meditação.

Assim, em primeiro lugar, temos de compreender perfeitamente o mecanismo de mudança; porque é isso o que em geral desejamos — mudar. O mundo se está transformando muito rapidamente, nas coisas exteriores. Pretendemos ir à lua, inventar foguetes, etc.; os valores se estão alterando; a “Coca-Cola” conquistou todo o mundo; as velhas civilizações estão desabando. A rapidez da mudança é maior do que o fato da mudança. Todos os velhos deuses, tradições, salvadores, Mestres, estão-se indo, ou já se foram. Uns poucos ainda se aferram a eles, erguendo muros defensivos ao redor de si mesmos — mas tudo se vai. E a mente não se interessa pela destruição, não se interessa pela criação; só lhe interessa defender-se, buscar sempre outros abrigos, um novo refúgio.

Assim, se aprofundardes seriamente a questão da humildade, não deixareis de pôr em dúvida todo esse mecanismo de aprender — o aprender no nível verbal, que nos veda a percepção das coisas como são. A mente que já não se preocupa com mudança nada teme e, portanto, é livre. E, a meu ver, a mente que compreendeu essa coisa — essa mente, decerto, é essencial; porque com essa compreensão a mente já não luta para ajustar-se a outro padrão, já não se abre a novas experiências, nada mais pede nem exige — porque é livre. E, então, talvez possa surgir aquilo que não tem nome. A humildade, portanto, é essencial, mas não a humildade artificial, cultivada. Devemos estar desprovidos de capacidades, de dons; devemos, interiormente, ser o mesmo que nada. E, parece-me, se se percebe isso, sem se tentar aprender como ser “o mesmo que nada” — pois isso é muito estulto e absurdo — parece-me que, então, ver é experimentar; e, assim, talvez possa manifestar-se “a outra coisa”.[...]

Krishnamurti, Saanen, 01 de agosto de 1961, O Passo Decisivo

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill