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sexta-feira, 6 de abril de 2018

O aprender não nos aproxima da Verdade

O aprender não nos aproxima da Verdade

INTERPELANTE: Vim aqui, para aprender e ser instruído. Podeis instruir-me?

KRISHNAMURTI: Esta é uma questão verdadeiramente interessante e convém examiná-la profundamente. Que se entende por "aprender"? Aprendemos uma técnica, aprendemos a ser eficientes, no ganho de nosso sustento ou na execução de uma certa tarefa material ou mental. Aprendemos a calcular, a ler, a falar uma língua, construir uma ponte, etc. Aprender é descobrir como se fazem coisas, desenvolver a capacidade de fazê-las. Afora isso, existe outra espécie de "aprender"? Pensai bem nisso, junto comigo.

Quando falamos de "aprender", entendemos acumulação, não é exato? E quando há qualquer forma de acumulação, pode a mente aprender? Aprender só é uma necessidade no sentido de adquirir uma capacidade. Eu nada poderia comunicar-vos, se não falasse uma língua; e para falar uma língua, tenho de aprendê-la, armazenar em minha mente o vocabulário e a significação dos vocábulos — isso é cultivo da memória. De maneira semelhante aprendemos a construir uma estrada, a conduzir um automóvel, etc.

Mas não é isso que pretende o interrogante; ele não veio aqui para aprender a guiar um carro, ou coisa semelhante. O que quer é ser instruído, aprender a descobrir aquilo a que se pode chamar a Verdade, ou Deus, não é isso? Quando procurais um guru, um instrutor religioso, com o fim de aprender, que é que aprendeis? Ele só poderá ensinar-vos um sistema, um padrão de pensamento. E é isso o que desejais de mim. Desejais aprender um novo padrão de comportamento, de conduta, uma nova maneira de viver — e isso, mais uma vez, é cultivo da memória, sob outra forma; e se observardes esse processo com muita clareza, muito atentamente, vereis que ele, na realidade, vos impede de aprender. Isto é muito simples.

Todos sois hinduístas — ou o que quer que sejais — e quando se vos apresenta uma coisa nova, que acontece? Ou traduzis o novo nos termos do velho — e por conseguinte a coisa deixa de ser nova — ou o rejeitais, e é isso o que realmente acontece. Assim, pois, a mente que está acumulando, pensando em conformidade com padrões, a mente recheada de saber e interessada em aprender um novo modo de pensar ou de conduta, essa mente, por certo, nunca aprenderá nada.

E que há para aprender? Quereis aprender algo sobre a reencarnação, Deus, a Verdade? Ao dizerdes: "Instruí-me, ensinai-me, estou aqui para aprender" — que significa isso? É possível ensinar? Ensinar o que? Sabeis muito bem como estar vigilante. Quando há muito interesse, há vigilância completa. Se desejais ganhar dinheiro como advogado, ficais até muito atento, no momento preciso. Quando se deseja com interesse profundo, vital, executar uma coisa, a atenção é despertada plenamente.

A atenção não é uma coisa que se precisa ensinar. Pode-se-vos ensinar a concentrar-vos, mas atenção não é concentração. Como sabeis, a mente só pensa dentro de padrões: como meditar, como construir uma ponte, como jogar cartas, como ler mais rapidamente, como conduzir automóvel, como corrigir o andar, regular a alimentação. De maneira semelhante desejais aprender o caminho que leva a Deus, à Verdade, desejais que alguém vos mostre a via que conduz àquele estado extraordinário. É claro que não existe caminho algum para aquele estado, pois aquele estado não é estático, e se alguém vos diz que há um caminho para lá, vos está enganando. Só pode haver caminho para o que é estático, sem vida. Nem há muitos caminhos para a Verdade, nem há um só caminho; não há caminho nenhum, e aí é que está a beleza da coisa. Mas a mente repele esse fato, porque deseja sentir-se em segurança, e por isso só pensa na Verdade como a segurança definitiva, final; e, assim, busca um caminho por onde alcançar aquela segurança.

Ora, se percebeis esse mecanismo, em sua Inteireza, que há para aprender? E pode-se ser livre pelo aprender? Por favor, refleti junto comigo, sem aceitar e sem rejeitar. Este problema vos concerne. Pode a mente que está aprendendo, acumulando, armazenando, ser livre em algum tempo? E se nunca está livre, como poderá ela investigar, descobrir? E o descobrir, por certo, é essencial; porque descobrir, averiguar, representa o potencial criador do homem. Assim, a mente tem de estar livre de toda e qualquer autoridade — a embriagadora autoridade da chamada religião e dos guias religiosos — porque só então ela é capaz de descobrir o que é a Verdade, o que é Deus, o que é bem-aventurança.

Senhores, se estais realmente prestando atenção ao que se está dizendo, sem o comparardes com o que tendes aprendido, sem vos preocupardes sobre como isso afetará os vossos compromissos, os vossos interesses, vossa posição na sociedade e demais insignificâncias e absurdos — vereis então, imediatamente, que há liberdade e descobrimento.

O aprender não aproximará de vós a Verdade. É só a mente que se acha numa jornada de descobrimento constante, a mente que não está acumulando, que está morta para tudo o que ontem acumulou e está, portanto, nova, purificada, livre — só essa mente é capaz de descobrir o verdadeiro e promover uma revolução neste mundo. Só ela é capaz de amor e compaixão — e não a mente que está praticando o amor e a compaixão, cultivando a virtude por um certo padrão — pois aí só há interesse egoísta.

Sinto ser muito tarde para responder a mais uma pergunta.

Se compreendermos o que significa "prestar atenção", é bem possível que então se realize essa revolução fundamental. Se cada um de nós for capaz de manter-se puramente atento, sem o desejo de produzir algum resultado ou de transformar a si mesmo, ver-se-á então que a mente já não é uma coisa temporal. O tempo só se torna existente pela comparação; e a mente que está comparando não está atenta. Já notastes quanto é difícil observar uma coisa, observar puramente uma qualidade, uma pessoa, uma ideia, um sentimento, sem tendência para negar, condenar ou justificar a coisa? Quando a mente é capaz de observar por essa maneira, vê-se que a reação nada significa e que naquele estado de atenção completa todo o conteúdo da consciência pode ser apagado.

Afinal de contas, a totalidade de nossa consciência é o resultado de múltiplas influências: a influência do clima, do regime alimentar, da educação, da raça e religião, de nossas leituras, da sociedade, e a influência de nossas próprias intenções e desejos. Espero que estejais a escutar-me com atenção, e não unicamente com a memória, e experimentando, realmente, o fato de que vossa consciência é o resultado de muitas influências. Essas influências são produto humano, e pode a consciência por elas condicionada encontrar alguma coisa além de seus próprios limites, por mais que o tente? Não pode, evidentemente. Só pode "projetar" o seu próprio passado sob um aspecto diferente. A consciência, como vemos, é condicionada, e nada que dela emana pode ser livre; entretanto, só a mente livre pode descobrir.

Ora, quando percebeis que o mecanismo do pensar, em qualquer nível — profundo ou superficial — é condicionado, reconheceis que o pensamento não é o fator libertador. Mas é preciso pensar com muita clareza, para se perceber a limitação do pensar. Todo pensamento emanado da mente condicionada é também condicionado. Quando a mente condicionada pensa em Deus, seu Deus é ela própria. Se a mente está, de todo, apercebida disso e lhe dá muita atenção, vereis então que há liberdade. A mente já não é então um brinquedo da sociedade, não é mais construída peça por peça pelo homem, e só então é ela capaz de experimentar algo transcendente.

Krishnamurti, Primeira Conferência em Madrasta, 11 de janeiro de 1956
Da Solidão à Plenitude Humana

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill