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quinta-feira, 5 de abril de 2018

Observando o mecanismo do apego

Observando o mecanismo do apego

PERGUNTA: Sou muito "apegado", e sinto ser muito importante cultivar o desapego. Como alcançarei esse sentimento de liberdade do apego?

Krishnamurti: Nosso problema é o desapego? Ou será o apego? Ser "apegado" causa sofrimentos, e, por conseguinte, desejamos tornar-nos desapegados. Se pudermos considerar o inteiro mecanismo do apego, não superficialmente apenas, mas compreendendo o seu verdadeiro significado, penetrando-o até o fundo, então é bem possível que se apresente algo muito diferente daquilo que chamamos "desapego". Porque somos tão apegados a alguma coisa: nossos haveres, pessoas, ideias, crenças? Bem sabeis quantas formas de apego existem e a quantas coisas vivemos apegados. Porque somos tão apegados? Não há um sentimento de temor se não estamos apegados a alguma coisa, se não estou apegado a meu amigo, a uma ideia, uma experiência já acabada, um filho, irmão, mãe, uma esposa morta? Não nos consideramos desleais, desamorosos, se não somos apegados? E não há também, em nosso apego, um medo estranho de não sermos alguma coisa? O problema é este, e não como cultivar o desapego. Se cultivo o desapego, este próprio cultivo se torna um problema.

Vede, por favor: eu sou apegado; meu apego resulta de temor, de variadas formas de solidão, de vazio etc. Estou cônscio disso e conheço as penas que o apego me impõe; consequentemente procuro cultivar o desapego. E assim a minha mente se mantém ocupada com o desapego e sobre como alcançar tal estado; e esse mecanismo mesmo se torna um problema, não é verdade? Desejo conquistar o desapego e, assim, a mente, ocupando-se com o resultado, com uma ideia chamada "desapego", cria o problema da consecução do "desapego"; nasce então o conflito — sou apegado e devo ser desapegado —, e esse conflito gera sofrimento. E vem daí uma luta constante para se alcançar certo estado isento de sofrimento e de temores. Mas, se sou capaz de encarar o apego, estar apercebido dele, sem perguntar como libertar-me da penosa luta para compreender tudo o que o apego implica, se sou capaz de estar simplesmente apercebido dele, como se está apercebido do céu — vendo-o nublado ou escuro, carregado de chuva ou todo azul —, não há então problema algum e a mente não está mais ocupada com a questão do apego ou com seu oposto, o desapego.

Quando a mente está assim vigilante, apercebida, pode então perceber o inteiro significado do apego. Mas não se pode discernir todo o significado interior do apego se há qualquer forma de condenação, comparação, julgamento, avaliação. Se "experimentardes" o que estou dizendo, vereis claramente a sua significação. O mero cultivar do desapego torna-se uma coisa por demais superficial. Suponhamos que fiqueis desapegados — e daí? Mas, quando há percebimento, pode-se ver que onde há apego não há amor; onde há apego, há desejo de permanência, de segurança, de continuidade pessoal — o que não significa que devamos aspirar à autodestruição. E, percebendo-se isso, o problema do apego se torna extraordinariamente significativo e amplo. Se nos limitamos a fugir do apego, por causar-nos tanto sofrimento, essa fuga só pode levar-nos a um amor superficial, um pensar superficial. E a maioria dos que estamos praticando a virtude — a virtude do desapego, da não avidez, da não violência — levamos na realidade uma vida superficial, vida de ideias, de palavras. Se estamos bem apercebidos do problema do apego, em todos os seus aspectos, começaremos a descobrir as suas extraordinárias profundezas, o quanto a mente está apegada à experiência de ontem, com a dor ou o prazer que a acompanharam, o quanto está presa a essa experiência. Não será possível ficarmos livres da experiência, tanto de prazer como de dor, enquanto não estivermos verdadeiramente vigilantes. Nessa vigilância ou percebimento, em que não há escolha nem reação alguma, a mente pode descer a grandes profundidades. A mera prática de qualquer virtude só pode conduzir à respeitabilidade, que é o que a maioria das pessoas deseja, pois a respeitabilidade identifica-nos com a sociedade. Todos desejamos ser reconhecidos como "algo", grande ou pequeno, isto ou aquilo; e a esta ideia temos apego. Podemos desejar desapegar-nos de pessoas, porque tal apego nos causa dor, ao passo que a ideia a que estamos apegados não nos é dolorosa. Mas, para compreendermos verdadeiramente o problema do apego — apego à tradição, à nacionalidade, aos costumes, ao hábito, ao conhecimento, à opinião, a um Salvador, a toda sorte de crenças e não crenças —, não devemos contentar-nos com arranhar a superfície, nem pensar termos compreendido o problema do apego pelo fato de estarmos cultivando o desapego. Mas se, ao contrário, não procurarmos cultivar o desapego — cultivo que apenas se torna mais um problema —, se pudermos simplesmente observar, com toda a clareza, o apego, seremos então, talvez, capazes de descer a uma grande profundidade e descobrir algo completamente diferente, algo que não é apego nem desapego.

Krishnamurti, Primeira Conferência em Londres
17 de junho de 1955

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill