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segunda-feira, 9 de abril de 2018

A ação que não é mera reação


A ação que não é mera reação

Em nossa última reunião, estivemos dizendo que se torna necessária uma grande revolução, não só em virtude da terrível situação mundial, mas também porque é indispensável que a mente humana seja livre para descobrir o que é verdadeiro. Parece-me de essencial importância que se crie uma mente nova, mente não limitada pela nacionalidade, pelas religiões organizadas, pela crença, por um dado dogma ou pelas limitações da experiência. Urge, por certo, fazer nascer um estado criador — não a mera capacidade de inventar, de pintar, de escrever, etc.; criador num sentido muito mais profundo e amplo. Indagamos como seria possível promover uma tal revolução e qual a ação necessária. E espero possamos prosseguir nesta mesma ordem de investigação.

Já se tem tentado, não é verdade? — aderindo a diferentes grupos, frequentando várias escolas de pensamento e de imitação — descobrir o que cumpre fazer. Sentimos esta necessidade de descobrir o que impende fazer, não apenas em nossa vida diária; desejamos também saber se há um modo de ação — tomada esta palavra num sentido muito mais amplo — de natureza total, não apenas num dado momento. Parece-me bastante óbvio que a maioria de nós anseia por descobrir o que se deve fazer; e talvez seja por esta razão que aqui estais, pois pertenceis a tantos grupos, corporações e sociedades religiosas: desejais descobrir o que se deve pensar e o que se deve fazer.

Para mim, o problema não é este, absolutamente. A exigência de “o que fazer”, a exigência de uma norma de conduta, determinada maneira de vida, é, na realidade, muito prejudicial à ação. Implica um sistema para seguir, dia a dia, até se alcançar determinado alvo, determinado “estado de ser”. Vivendo, como vivemos, neste mundo insano, caótico, impiedoso, procuramos, em meio a toda esta confusão, uma norma de ação que não crie novos problemas. E creio que para se compreender esta matéria profundamente é necessário compreender o esforço, o conflito e a contradição.

Vivemos, em geral, num estado de autocontradição, tanto coletiva como individualmente. Não quero fazer asserções absolutas, mas acho que é mais ou menos exata a asserção de que muito raramente conhecemos momentos livres de conflito, de contradição interior. Não conhecemos um estado mental perfeitamente tranquilo, em que essa tranquilidade, por si só, é ação. Em maioria, vivemos em contradição, e dessa contradição resulta conflito. E interessa-nos saber como nos libertarmos desse conflito, não só exteriormente, mas também interiormente. Se, partindo daqui, pudermos prosseguir nossa investigação, talvez consigamos encontrar a ação que não é mera reação.

Para a maioria de nós, toda ação é reação. E é possível agirmos sem ser em reação e, consequentemente, sem criarmos contradição em nós mesmos? Espero que me esteja fazendo claro. Gostaria que examinássemos juntos esta questão, penetrando-a completamente. Porque, para mim, o conflito, em qualquer forma que seja, é — expressando-o delicadamente — prejudicial à penetração, à compreensão. Somos criados, educados no conflito e na competição; toda a nossa sociedade aquisitiva se baseia nisso. É possível, pois, a mente libertar-se do conflito e, em consequência, esclarecer todo esse processo de autocontradição? Talvez possamos examinar este ponto com inteligência, para alcançarmos aquela mente que se acha num estado de revolução e compreendermos, assim, o que é atuar sem os efeitos condicionadores da experiência e do conhecimento.

PERGUNTA: Isso não seria agir sem pensar?

KRISHNAMURTI: Isso (agir sem pensar) seria algo caótico, não achais? Talvez seja preferível examinarmos primeiramente o processo do pensar, o mecanismo do pensar. Permiti-me, pois, perguntar: Que é pensar?

APARTE: Eu diria que pensar é uma reação nervosa a algo que se experimentou. Não podemos reagir ao que não experimentamos.

KRISHNAMURTI: Ora, há máquinas que pensam: os cérebros eletrônicos, os computadores. Nosso pensar se processa de maneira semelhante? É ele reação da memória, que são as experiências armazenadas, individuais e coletivas; reação à qual se junta a reação nervosa? Pergunto-vos: Que é pensar? Antes de responder, não deveis estar apercebido do processo, do mecanismo que opera no responder? No intervalo entre a pergunta e a resposta está em movimento o “mecanismo” pensante, não é exato? O desafio constituído pela pergunta põe em ação o mecanismo do pensamento e vem então a reação. Não é assim mesmo? Se vos perguntam qual é vossa religião ou nacionalidade, vós respondeis — não é verdade? — em conformidade com vossa educação, vossa criação, de acordo com vossa crença ou não-crença. Ora, de que fundo (background) procede a vossa resposta?

APARTE: Da memória.

KRISHNAMURTI: Exatamente, não é? Se nasci em certo lugar e lá fui educado, moldado pela sociedade, pela tradição de que vivo, tenho então um certo reservatório de experiências, lembranças, e minha reação a qualquer desafio procede desse fundo. Eis o mecanismo, eis o que chamamos “pensar”. De acordo com essa experiência, herdada ou adquirida, eu vivo e atuo. Meu pensar, portanto, é sempre muito limitado; por conseguinte, não há liberdade no pensar.

PERGUNTA: Não é possível um homem ter pensamento criador: por exemplo, fazer novas descobertas na ciência ou na Matemática? O pensar é todo ele resultado de condicionamento?

KRISHNAMURTI: Quando descobrimos realmente alguma coisa? Quando percebemos algo novo, subjetiva ou objetivamente?

APARTE: Eu diria: quando se esgotaram os meios conhecidos.

KRISHNAMURTI: Examinemos isso. Tenho um problema de Matemá­ tica e trabalho para o resolver; ataco-o de muitas e diferentes maneiras, até ficar exausto; deixo-o então de lado e eis que na manhã seguinte, ou em dado momento posterior, a solução se apresenta subitamente. Assim, depois de a mente ocupar-se amplamente com o problema, e de abandoná-lo por não encontrar a solução, sobrevém uma certa quietude em relação ao problema e, posteriormente, a solução vem por si.

PERGUNTA: Direis que isso não é pensar?

KRISHNAMURTI: Estamos investigando, não? Há muitas coisas aí compreendidas. O pensar não se acha num único nível mental; é preciso também considerar o todo inconsciente. Estamos investigando o que é pensar. E vemos que nosso pensar procede, pela maior parte, de nosso fundo de memória, experiência, conhecimento etc. E há momentos em que, num rápido clarão, percebemos uma dada coisa aparentemente não relacionada com o passado; e isso que vemos pode ser falso ou pode ser verdadeiro, conforme a maneira como o traduzimos, e conforme o nosso fundo. Quando a mente superficial está tranquila, pode haver descobrimento, entendido como uma nova invenção ou uma ideia nova; mas todos os descobrimentos novos são da mesma natureza? Pois temos de considerar a mente em sua totalidade, não achais? — não só a mente superficial, mas também a mente inconsciente.

Pela maior parte do tempo funcionamos num nível superficial, não é verdade? As atividades a que nos entregamos são muito superficiais: não exigem a reação integral de nosso ser total. É óbvio que toda a nossa educação e todo o nosso cabedal mental (background) estão ajustados para a reação superficial; vivemos na superfície da mente. Mas existe também a mente inconsciente, profunda e inexplorada, a qual está sempre fornecendo alusões, avisos, sonhos etc.; e estas coisas, por sua vez, são traduzidas pela mente consciente segundo o seu condicionamento. E a consciência inteira não está condicionada? O inconsciente, decerto, é o reservatório das memórias raciais: recordações, reflexões, tradições, memórias, todos os conhecimentos acumulados do homem. Mas a mente consciente, a mente superficial é educada para as técnicas do mundo moderno. Por isso, evidentemente, existe uma contradição entre o inconsciente e o consciente. A mente consciente pode ser educada para não ter crença em Deus, para ser ateísta, comunista ou o que quer que seja, mas o inconsciente foi exercitado durante séculos na crença; e quando sobrevém a crise, o inconsciente reage muito mais fortemente do que a mente consciente. Sabeis disso muito bem, não? Vemos, pois, que a totalidade da consciência, não apenas a parte superficial, mas também a parte inconsciente, está condicionada; e qualquer reação oriunda do inconsciente não é fator de libertação. Pensai nisso, por favor, e investigai junto comigo; não vos limiteis a concordar ou discordar. Se um matemá­tico tem um problema e, depois de investigá-lo, de estudá-lo, o resolve sem a ajuda do pensamento, constitui esta solução coisa totalmente nova, não nascida, não resultante do inconsciente?

PERGUNTA: Se procede do inconsciente, então é coisa velha; não é realmente nova, é?

KRISHNAMURTI: Se permitis dizê-lo, temos de ser muito cautelosos, para não ficarmos no terreno da especulação pura e simples. Ou falamos por compreensão direta, depois de investigarmos toda a matéria, ou, ainda, podemos estar simplesmente repetindo o que alguém disse ou o que lemos. Se pudermos, por ora, ou mesmo para sempre, pôr de parte tudo o que outros disseram — os íogues, os swamis, os analistas, os psicólogos, e quem mais seja — estaremos então capacitados para descobrir por nós mesmos, diretamente, se é possível a consciência total libertar-se do condicionamento. Se não é possível, então o que se pode fazer é só continuarmos o velho trabalho de aperfeiçoar a consciência total — torná-la mais digna, melhor, mais nobre etc. Isto é o mesmo que viver numa prisão a decorar-lhe as paredes. Não importa se o intelecto foi “banhado” pelos comunistas, os católicos, os protestantes, os anglicanos ou outra seita qualquer... tudo é a mesma coisa. E é realmente importante, de vital importância, considerarmos se é possível ultrapassar a consciência limitada e condicionada; se a mente pode ficar livre, no sentido mais profundo desta palavra. Há quem diga que a mente, sendo resultado do tempo e do ambiente, permanecerá necessariamente escrava dessas influências; mas nós estamos perguntando se podemos transcender a mente, o tempo.

PERGUNTA: Como seria possível tal coisa?

KRISHNAMURTI: Estamos examinando o problema inteiro, não? Ou a mente é capaz de libertar-se de todas as influências e, por conseguinte, de todos os ambientes passados, presentes e futuros, ou isso não é possível. Os comunistas não o creem possível, tampouco o creem os católicos ou qualquer dentre as pessoas religiosas. Falam a respeito de liberdade, mas não creem nela, pois quem deles discorda é considerado herético — excomungado, queimado vivo, liquidado etc. É possível, pois, manifestar-se uma ação não procedente da esfera da consciência, da limitação, do condicionamento? Percebeis a questão, senhores?

APARTE: A experiência da maioria nos mostra que isso não é possível, mas ao mesmo tempo pressentimos essa possibilidade, mas não sabemos como consegui-lo.

APARTE: Eu sinto que não é possível.

KRISHNAMURTI: Estais só esperando que eu diga alguma coisa? Ora, eu não sei até que ponto penetrastes por vós mesmos nesta questão.

APARTE: Tenho certeza de que a mente consciente pode ser livre, mas a mente inconsciente parece-me um problema tremendo.

KRISHNAMURTI: É possível, mediante análise, penetrar passo a passo no inconsciente, esclarecê-lo e, assim, transcendê-lo? É possível?

Ora, o inconsciente é um “mecanismo” positivo, não? E podeis abeirar-vos de um processo positivo com uma exigência positiva? Tanto o consciente como o inconsciente estão sujeitos à mesma limitação, pois não? A mente consciente tem seus motivos próprios para desejar investigar o inconsciente. O motivo existe: ela quer ser livre. O motivo é positivo; e o inconsciente não é uma coisa vaga, é também positivo. Mas, embora o inconsciente seja positivo — com todas as suas alusões, avisos, sonhos etc. — não conheceis diretamente o seu conteúdo; não sabeis o que ele é realmente. Pode, pois, a mente consciente investigar uma coisa que desconhece? Por favor, não ponhais isso de lado; é assunto muito importante. A análise, feita por outro ou por vós mesmo, poderá revelar todo o conteúdo dessa coisa chamada inconsciente, a qual desconheceis totalmente?

APARTE: O inconsciente parece-me vasto demais.

KRISHNAMURTI: Não, não vos limiteis a dizer que ele é vasto demais; pois, nesse caso, não estais dando atenção à verdadeira questão: estais escapando por uma tangente. Parece que nunca examinastes bem o processo do pensar. Existe pensamento sem a palavra, a imagem, a ideia, o símbolo? Pois o símbolo se encontra também no inconsciente, tal como no consciente, não é verdade? E o mecanismo de investigar o inconsciente por meio de análise me parece falho. Desejo sugerir-vos um caminho certo: o percebimento direto. Em primeiro lugar, deve ficar bem claro para nós que todo pensar é mecânico. Pensar é reação da memória, reação do conhecimento, da experiência; e todo pensar proveniente desse fundo é condicionado. Por conseguinte, o pensamento nunca pode ser livre: e sempre mecânico.

APARTE: Sim, percebo isso.

Krishnamurti: Que entendeis, ao dizerdes: “Percebo”? Vede, por favor, isto é muito importante.

APARTE: Algo, dentro em mim, me faz percebê-lo.

KRISHNAMURTI: Quer dizer, então, que “algo dentro em vós” vos faz também perceber que deveis ser nacionalista, não é verdade? Algo vos faz crer que existe Deus, que deveis ter uma religião. Se dependeis de “algo” que vos fala “de dentro”, estais então também sujeito a ter ilusões, não? Assim, que entendeis por “Percebo”? Se digo que o nacionalismo é um veneno, percebeis a verdade desta asserção?

APARTE: Ela é óbvia.

KRISHNAMURTI: E quando digo que ter qualquer crença, pertencer a qualquer sociedade, qualquer religião organizada, é prejudicial ao descobrimento, percebeis também isto?

APARTE: Não muito claramente, porque pertenço a um grupo que trabalha para as Nações Unidas, e acho que isso é uma boa coisa. Aparte: Ele queria dizer “nações desunidas”.

KRISHNAMURTI: Desunidas, não há dúvida; mas estamo-nos afastando da matéria. Dissestes muito claramente que percebeis que o nacionalismo é um veneno. Vós todos concordastes. Mas, inconscientemente, sois todos nacionalistas, não é verdade? Sentis-vos inglês, francês, ou o que quer que seja. Esse sentimento existe, profundamente arraigado, não? E dizeis não perceber com a mesma clareza que a crença é destrutiva do descobrimento. Mas considerai a coisa desta maneira: Desejo descobrir se existe Deus. Desejo realmente descobrir por mim mesmo se Ele existe ou não. Portanto, preciso, em primeiro lugar, eliminar tanto do consciente como do inconsciente todos os conceitos relativos a Deus, não? Para descobri-lo realmente, tenho primeiro de arrancar todas as raízes da cultura em que fui criado, educado; não deve haver abrigo nem refúgio, onde eu ache que estou prestando bons serviços. Uma vez que minha intenção é descobrir, devo livrar-me sem dó nem piedade de tudo quanto aceitei, de modo que fique completamente desabrigado, física, verbal, intelectual ou emocionalmente; então, já não pertenço a coisa alguma.

Iniciamos esta investigação com a questão relativa ao que se deve fazer neste mundo insano. Uma nova maneira de considerar a vida, uma mentalidade inteiramente nova — isso é necessário; e esse novo “caminho” deve resultar de uma revolução completa, de uma total abjuração do passado. E o passado é tanto o inconsciente como o consciente. Assim, pertencer a qualquer grupo organizado de pensamento é coisa venenosa.

E todo esforço que façamos para sermos novos pertence também ao passado, não é verdade? Porque toda a atual estrutura da sociedade se assenta na aquisição, que significa esforço. Todo o processo baseado no “devo ser isto” ou “ não devo ser aquilo” implica esforço, conflito; percebo isso. E quando digo “percebo”, quero dizer que o percebo realmente e não emocional, sentimental, intelectual ou verbalmente. Vejo-o, assim como estou vendo este microfone. E o próprio percebimento do fato eliminou completamente aquele condicionamento. Não sei se vos estou comunicando alguma coisa. Por favor, não vos limiteis a concordar comigo. Isto não é um entretenimento social. Porque, se o estais vendo pela mesma maneira, estais então livres de tudo, completamente, instantaneamente.

APARTE: Sentimo-nos agrilhoados ao nosso condicionamento, em virtude de nossos deveres para com a sociedade e a família.

KRISHNAMURTI: Diz este cavalheiro, com toda a razão, que estamos agrilhoados pelos nossos deveres para com a família, a sociedade, nosso emprego, nossa pátria, a religião em que fomos criados, etc. etc. É assim que, quando nos vemos frente a frente com a necessidade de termos uma mente de todo nova, contrapomos a família, a sociedade, ao fato. E, por essa razão, há conflito entre o fato e aquilo que concebeis como vosso dever, não é? E é assim que, para fugir desse conflito, um homem ingressa num mosteiro, torna-se monge, ou isola-se interiormente; constrói um hábito em torno de si e aí fica vivendo. Ora, senhores, quando empregais as palavras “dever”, “responsabilidade”, estais-vos pondo em oposição à liberdade. Mas, se percebêsseis o fato sobre o qual estivemos falando, teríeis então uma maneira de agir completamente diferente, em relação a vossa família e à sociedade.

Como vedes, estou voltando à questão da ação e talvez forçando um pouco as conclusões. É bem de ver que todos desejamos “fazer alguma coisa” de nossa vida. Conheço pessoas, pelo mundo inteiro, que se disciplinaram rigorosamente, por desejarem descobrir o que é correto fazer. Essas pessoas se isolaram, renunciaram a tudo, obedeceram a preceitos religiosos e fizeram esforços tremendos; e o resultado final é que são entes humanos mortos, estiolados. Foi o constante esforço para ser alguma coisa, tornar-se alguma coisa, que os destruiu. E quando pomos a sociedade e a família em oposição à liberdade, o que fazemos é apenas introduzir o fator de conflito. E eu vos digo: não introduzais o elemento de conflito. Vede a verdade aí existente, e esse próprio percebimento se encarregará das relações. Como disse, para a maioria de nós ação é puramente reação. Eu vos lisonjeio, e vós reagis; ou vos insulto, e reagis. Nossa ação é sempre reação. E eu estou falando a respeito de coisa diferente, da ação que não é reação, porém ação total. Isto não é nenhuma ideia singular, extravagante, fantástica, de minha própria cabeça. Mas, se observásseis diretamente a coisa, na sua totalidade, se observásseis o mundo, as pessoas, estudando-as, olhando-as realmente — os grandes, os pequenos, os chamados santos e os chamados pecadores — veríeis que todos edificaram suas vidas no conflito, na luta, na repressão e no temor, e veríeis os horrores que daí resultam. Para ficardes livres de tudo isso, tendes de primeiramente vê-lo.

APARTE: Há tanto condicionamento inconsciente!

KRISHNAMURTI: Considerai isso, por favor. Todos vivemos em nossa mente consciente, superficial, e como podeis clarear todas as camadas, todas as seções do inconsciente, sem perder uma única? É possível a mente consciente penetrar em algo inconsciente, oculto? Ora, sem dúvida, o que posso fazer é só observar, permanecer completamente desperto, vigilante, o dia inteiro — quando trabalho, quando descanso, quando passeio, quando falo — para que tenha uma noite sem sonhos.

Começamos falando sobre uma revolução que não é resultado de cálculo e pensamento; porque o pensamento é mecânico, o pensamento é reação. O comunismo é reação ao capitalismo; se eu abandonar o catolicismo e me tornar outra coisa, isso é ainda uma reação. Mas, sê percebo a verdade de que pertencer a qualquer coisa, crer em qualquer coisa significa estar apegado a uma certa forma de segurança e impedindo, por consequência, o percebimento do que é verdadeiro, não há então conflito, nem esforço.

Estou vendo, pois, que a ação que é reação, não é ação, de modo nenhum. Desejo descobrir o que é a liberdade. Percebo a imperiosa e urgente necessidade de ter uma mente nova, e não sei o que faça para ter. Assim, fico preocupado acerca do que “devo fazer”; por conseguinte, estou dando toda a importância ao que “devo fazer” e não à mente nova. “O que devo fazer” tornou-se, pois, de suma importância, e rogo: “Tende a bondade de me dizer” — e deste modo cria-se a autoridade, a coisa mais perniciosa deste mundo.

Assim sendo, podemos perceber interiormente, ver este fato real: que toda ação é reação; que toda ação nasce do impulso para realizar, alcançar, tornar-se algo, chegar a alguma parte? Posso perceber este fato realmente, sem introduzir “o que devo fazer”, “minha família”, “meu emprego” e outras coisas que tais? Porque, se a mente percebe o fato, sem traduzi-lo nos termos do velho, há então percepção imediata; compreender-se-á então a ação que não é reação; e essa compreensão é uma qualidade essencial da mente nova. 

Krishnamurti, Londres, 04 de maio de 1961, O Passo Decisivo

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill