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segunda-feira, 9 de abril de 2018

A morte é a libertação do coletivo


A morte é a libertação do coletivo

E a morte... por que tanto medo à morte? Esse medo existe não só para os velhos, porém para todos. Por quê? E, sentindo medo, inventamos tantas teorias agradáveis e confortadoras: reencarnação, karma, ressurreição, etc. etc. É ao medo que cumpre compreender... mas não voltemos a esta questão do medo. Estamos tentando compreender o que significa morrer.

A maioria de nós deseja a continuidade física — lembranças de coisas passadas, esperanças, satisfações, preenchimentos; vivemos, em geral, com nossas lembranças, associações, quadros, retratos. E tudo pode findar, ao perecer o corpo físico. Isto é muito perturbador. Já vivi tanto — cinquenta ou sessenta anos; tenho lutado para cultivar certas virtudes, adquirir conhecimentos; e que vale a vida, se tenho de separar-me de tudo, acabar num dado momento? Origina-se, assim, o tempo-espaço. Entendeis? Tempo, compreendido como espaço e distância. Mas tudo o que tem continuidade, que não conhece findar, não pode renovar-se nunca, ser jovem, viçoso, “inocente”. Só aquilo que morre tem a possibilidade de conhecer a criação, de ser novo, fresco. Assim, é possível morrer em vida, conhecer a vitalidade, a energia da morte, com todos os sentidos plenamente despertos? Que significa a morte? Não a morte de velhice, doença ou acidente, porém a morte de uma mente em plena atividade, que provou, que experimentou e adquiriu conhecimento; quer dizer, a morte do passado. Compreendeis?

Não sei se já alguma vez experimentastes — ainda que por divertimento — morrer para todas as coisas conhecidas. Direis, então: “Se morro para todas as minhas lembranças, para minha experiência, meu saber, meus retratos, meus símbolos, meus apegos e ambições, que resta?” Nada. Mas, para saber o que é a morte, a mente, por certo, deve estar reduzida a nada. Consideremos uma coisa. Já experimentastes morrer, não só para o sofrimento, mas também para o prazer? Desejamos morrer para o sofrimento, para as lembranças desagradáveis; mas morrer também para o prazer, as alegrias, as coisas que vos conferem um extraordinário senso de vitalidade — já experimentastes isto? Se o fizerdes, vereis que se pode morrer para o passado. Morrer para todas as coisas, de modo que, ao dirigir-vos para vosso escritório, para vosso trabalho, tenhais a mente nova — por certo, isto é amor e não coisas lembradas.

Assim, a mente foi construída através do tempo; a mente é tempo. Todo o pensamento molda a mente no tempo. E para não ser moldado pelo tempo, o pensamento deve cessar completamente. Não um cessar forçado, um cessar mecânico, não uma interrupção, porém o findar consistente em perceber a verdade de que ele deve cessar.

Assim, para sabermos o que é a morte, precisamos “viver com a morte”. Se desejais conhecer uma criança, tendes de viver com a criança, e não temê-la. Mas, em maioria, nós morremos mil mortes, antes da morte real. “Viver com a morte” é morrer para ontem, de modo que ontem não produza marca no dia de hoje. Experimentai-o. Percebendo-se o que há de verdadeiro nisso, tem então o viver significado todo diferente; não há então separação entre o viver e a morte. Mas, nós temos medo de viver e temos medo de morrer; e não compreendemos nem o viver, nem a morte. Para “vivermos com uma coisa” temos de amá-la; e amar é morrer para ontem — porque então se pode viver. Viver não é continuidade da memória, ou volver ao passado, dizendo: “Como eu era feliz em minha infância!”

Não conhecemos a morte e não conhecemos a vida. Conhecemos as agitações, as ansiedades, as “culpas”, os temores, as terríveis contradições e conflitos; mas não sabemos o que é viver. E só conhecemos a morte como coisa aterradora, temível; afastamo-la do pensamento e evitamos falar a respeito dela, buscamos refúgio numa dada crença, como sejam discos voadores, reencarnação ou outra coisa qualquer.

Há, pois, um morrer e, portanto, um viver, quando o tempo, o espaço e a distância são compreendidos em termos do “desconhecido”. Ora, nossa mente funciona sempre no campo do “conhecido”, e nós nos movemos do conhecido para o conhecido; e nada mais conhecemos; e quando a morte interrompe esta continuidade “do conhecido para o conhecido”, aterramo-nos e nenhum consolo encontramos. O que desejamos é consolo, não a compreensão de algo que não conhecemos, não o viver com algo que não conhecemos.

Assim, o conhecido é o “ontem”. Eis tudo o que sabemos. Não sabemos o que é o “amanhã”. Projetamos o passado, através do presente, no futuro; e daí nasce a esperança e o desespero. Mas, para compreender realmente a coisa chamada “morte”, que deve ser algo extraordinário, incognoscível, impensável, inimaginável, precisamos procurar conhecê-la, “viver com ela”, precisamos chegar-nos a ela sem conhecimento e sem medo. E eu digo que isso é possível, que uma pessoa pode morrer para todos os dias passados. Afinal de contas, todos os dias passados são constituídos de prazer e de dor. E quando morremos para o passado, a mente está vazia; e, assustando-se com esse vazio, ela de novo começa a mover-se de um conhecido para outro. Mas, se se puder morrer para o prazer e a dor — não determinado prazer ou determinada dor — a mente está então fora do tempo e do espaço. E essa mente contém então o tempo e o espaço, sem o conflito do tempo e do espaço, não sei se estais compreendendo. Nossa linguagem é muito limitada. Vejamos se sobre isto podemos conversar.[...]

APARTE: Se vos dissessem que iríeis morrer amanhã, isso teria algum efeito em vós, pessoalmente?

KRISHNAMURTI: Nenhum, absolutamente, eu continuaria do mesmo modo. Mas a questão é: existe pensar individual separado do coletivo? O que estou tentando dizer é isto: Sou educado como hinduísta, como cristão, budista ou seja o que for, e creio em tudo que a sociedade crê, sendo eu uma parte dela. Existe pensamento separado desse todo? Todo pensamento separado só pode ser uma reação, não é verdade? Posso libertar-me da estrutura do “coletivo” e me declarar separado, mas isso, em verdade, é apenas uma reação dentro daquela estrutura, não achais? Eu estou falando a respeito da rejeição total da estrutura. É isso possível? Se é possível, há então pensamento individual que não é mera reação ao “coletivo”. Afinal, a morte é a libertação do “coletivo”. A morte é um libertar-se da estrutura em que existe pensar coletivo e reação a esse pensar coletivo, a qual chamamos “pensar individual”, mas que continua a fazer parte do “coletivo”. Morrer para tudo isso pode e dever ser algo completamente diferente, algo que não se pode medir em termos do “coletivo” ou em termos do “individual”, algo incognoscível, desconhecido. E eu digo que, se o conhecido não existe dentro do “desconhecido”, somos então meros escravos do conhecido e daí não há sápida. O incognoscível se torna possível quando morremos para o conhecido.

Krishnamurti, Londres, 21 de maio de 1961, O Passo Decisivo

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill