Nós, os ativos seres superficiais
Falarei hoje sobre a qualidade da mente meditativa. Esta pode ser um tanto complexa e abstrata, porém, se a examinarmos atentamente, não tanto em suas minúcias, mas com o propósito de descobrir sua natureza, sua índole, sua essência, então talvez valha bem a pena fazê-lo. Então, talvez, com esforço consciente e propósito deliberado, estaremos aptos a ultrapassar a mente superficial, que tão vazias torna as nossas vidas — tão sem profundeza que é, tão senhoreada pelos hábitos.
Antes de tudo, valeria a pena reconhecermos por nós mesmos o quanto somos superficiais. A mim me parece que quanto mais superficiais, tanto mais ativos e mais “coletivos” nos tornamos, e tanto mais nos entregamos às atividades de reforma social. Colecionamos obras de arte, tagarelamos interminavelmente, dedicamo-nos a atividades sociais, frequentamos concertos, bibliotecas, galerias de arte, e submergimos na interminável rotina do emprego e dos negócios. Estas coisas tornam-nos embotados; e quando percebemos esse embotamento, procuramos fazer-nos mais penetrantes, por meio de palavras, do intelecto, das coisas da mente. E, reconhecendo-nos superficiais, tentamos fugir a esse vazio, entregando-nos a práticas religiosas, às orações, à contemplação, à busca de saber; tornamo-nos idealistas, adornamos de quadros as paredes etc. Acho que estamos suficientemente apercebidos de sermos muito superficiais, bem apercebidos de que a mente que segue um hábito ou pratica uma disciplina a fim de “vir a ser algo” torna-se cada vez mais embotada e estúpida, perdendo toda penetração e sensibilidade. É dificílimo a uma mente superficial despedaçar sua própria estreiteza, suas próprias limitações, sua própria insignificância. Não sei se já pensastes nisso alguma vez.
O assunto de que vou tratar nesta tarde requer, não só certa atividade mental, intelectual, mas também uma clara compreensão da palavra e de suas limitações. E, se pudermos entrar em comunhão uns com os outros, não apenas verbalmente, porém ultrapassando o símbolo que a palavra evoca na mente e, também, prosseguindo juntos e cautelosamente o nosso caminho, então, sem dúvida, começaremos a descobrir, por nós mesmos, o que é meditar e qual é a qualidade da mente capaz de meditação.
Parece-me que, se não compreendemos a extraordinária beleza da meditação, por mais que pareçamos inteligentes, prendados, competentes, penetrantes, nossa vida tem de ser muito superficial e mui pouco significativa. E, reconhecendo quão pouco significativa é nossa vida, tratamos de buscar uma “finalidade da vida”; e quanto mais grandiosa a “finalidade” que nos oferecem, tanto mais nobres julgamos serem os nossos esforços. Penso que a busca de “finalidade” é procedimento absolutamente errôneo. Não há finalidade; o que há é o viver sem limitações. E para se descobrir esse estado isento de limitações, requer-se uma mente muito perspicaz, muito clara, penetrante e precisa, e não uma mente embotada pelo hábito.
Evidentemente, nossas vidas são vazias, superficiais. E a mente superficial facilmente se satisfaz. Ao ver-se descontente, põe-se a seguir uma estreita rotina, fixa um ideal, sai atrás do que deveria ser. E essa mente, não importa o que faça — quer estejamos sentados de pernas cruzadas, a contemplar meditativamente o umbigo, quer meditemos a respeito do Supremo — permanecerá sempre vazia, porque sua mesma essência é sem profundeza. Uma mente estúpida nunca se tornará uma mente superior. O que ela pode fazer é compreender sua própria estupidez; e, no momento em que perceber, por si mesma, o que ela própria é, sem imaginar o que deveria ser, “quebra-se” então a estupidez. Com esta compreensão, toda busca termina — mas isto não significa que a mente se torna “estagnada”, adormecida. Pelo contrário, está enfrentando o que é, em sua realidade; e isso não é processo de busca, porém de compreensão.
Afinal, a maioria das pessoas está em busca de Deus, da Verdade, do eterno amor, de uma eterna morada celestial, um amor permanente. E a mim me parece que a mente que busca é muito superficial. Acho que devemos compreender mais ou menos este ponto, investigá-lo, ver quanto são absurdas a mente superficial e suas atividades, pois não poderemos penetrar fundo, em nossas investigação desta tarde, se continuarmos a pensar em termos de busca, de esforço para descobrir. Ao contrário, necessitamos de uma mente sobremodo penetrante, quieta, tranquila. A mente sem profundeza, que se esforça para tornar-se silenciosa, continua a ser apenas qual uma poça d’água, sem profundidade. A mente limitada, sempre tão sabedora, tão sagaz, tão empolgada da ambição de achar Deus, a Verdade, ou um santo qualquer, porque seu desejo é chegar a alguma parte — essa mente continua superficial, porquanto todo esforço é superficial, produto da mente limitada, estreita. Jamais pode ser sensível essa mente; e parece-me necessário encararmos esta verdade. O esforço para ser, “vir a ser”, rejeitar, resistir, cultivar a virtude, reprimir, sublimar — tudo isso, em essência, constitui a natureza da mente superficial. Provavelmente a maioria não concordará com isso, mas não importa. A mim me parece um óbvio fato psicológico.
Ora, quando uma pessoa percebe isso, se torna apercebida disso, percebe a sua verdade, realmente e não verbal nem intelectualmente — e não deixa a mente fazer perguntas sem conta sobre como modificar este fato, como libertar-se desta superficialidade — sendo que tudo isso envolve esforço — reconhece então a mente que nada pode fazer contra esse estado. O que pode fazer é apenas perceber, ver as coisas cruamente, tais como são, sem deformação, sem invocar opiniões a respeito do fato; quer dizer, observar simplesmente. E é dificílimo observar pura e simplesmente, porque nossa mente foi exercitada para condenar, comparar, competir, justificar ou identificar-se com o que vê. Por esta razão, nunca vê as coisas tais como são. “Viver com um sentimento” tal qual ele é — seja ciúme, inveja, ambição, ou seja o que for — “viver com ele” sem o deformar, sem emitir opinião ou julgamento a seu respeito, isso requer uma mente dotada de energia para seguir todos os movimentos do fato. Um fato nunca é estático; ele se movimenta, vive. Mas nós o queremos estático, aprisionando-o com uma opinião, um juízo.
Assim, a mente que está vigilante, que é sensível, percebe a futilidade de todo esforço. Mesmo na educação, a criança, o estudante que forceja para aprender, nunca aprende realmente. Poderá adquirir conhecimento, tirar um diploma; mas aprender é coisa que transcende o esforço. Talvez possamos nesta tarde aprender juntos, sem esforço, em lugar de ficarmos presos na esfera do conhecimento.
Estar apercebido do fato, sem o desfigurar, sem o colorir, sem lhe dar nenhuma tendência — observar a nós mesmos tais como somos — com todas as nossas teorias, esperanças, desesperanças, sofrimentos, fracassos e frustrações — isso torna a mente em extremo penetrante. O que torna a mente embotada são as crenças, os ideais, os hábitos, a busca de seu próprio engrandecimento, desenvolvimento, seu próprio vir a ser ou ser. Como disse, para se seguir o fato requer-se uma mente precisa, sutil, ativa, porquanto o fato nunca é estático.
Não sei se já alguma vez olhastes a inveja como um fato, seguindo-a. Todas as nossas sanções religiosas baseiam-se na inveja, do arcebispo ao ínfimo clérigo; e toda a nossa moralidade social, nossas relações, estão baseadas na aquisição e na comparação, e esta, por seu turno, significa inveja. E seguir isso até o fim, em todos os seus movimentos, em todas as nossas atividades diárias, requer uma mente muito alertada. É muito fácil — não achais? — reprimi-lo, dizendo: “Vejo que não devo ser invejoso”, ou “Já que estou aprisionado nesta sociedade, corrompida, tenho de aceitar esta condição”. Mas seguir todos os movimentos do fato, cada curva, cada linha, cada nuança, cada sutileza — esse próprio “processo” de segui-lo torna a mente sensível, sutil.
Ora bem, se fazemos isso, se seguimos o fato sem tentar alterá-lo, não existe então contradição entre o fato e o que deveria ser, e, portanto, nenhum esforço existe. Não sei se estais percebendo isto realmente; que se a mente está seguindo o fato, não está então empenhada em alterá-lo, em torná-lo diferente. Isto, também, é uma verdade psicológica. E esse seguimento do fato precisa ser feito a todas as horas, noite e dia, mesmo durante o sono. Pois a atividade da mente quando o corpo dorme é muito mais deliberada, positiva, e essas atividades são descobertas pela mente consciente através de símbolos, sugestões, sonhos.
Mas se a mente se conserva vigilante, no correr do dia, observando a todas as horas cada movimento, cada gesto, cada movimento de pensamento, não há então sonhar; pode então a mente ultrapassar a própria consciência. Não prosseguiremos nisso, por ora, porque o que desejamos salientar é a necessidade de uma mente sensível. Para se descobrir o que é a Verdade, Deus, ou o nome que preferirdes, é absolutamente necessário ter uma mente lúcida — não no sentido de talentosa, intelectual, alegativa; uma mente capaz de raciocinar, de examinar, de duvidar, de indagar e investigar, a fim de descobrir. A mente que tem fronteiras, que está condicionada, não é sensível. O nacionalista, o crente, por certo não tem uma mente sensível, porquanto sua crença, seu nacionalismo lhes limita a mente. Assim, no seguir o fato, a mente se torna sensível. O fato a torna sensível e não há necessidade de fazermos a mente sensível.
Se está mais ou menos claro isso, qual é então a natureza da beleza que essa mente descobre? A beleza, para a maioria de nós, reside nas coisas que vemos objetivamente — um edifício, um quadro, uma árvore, um poema, um rio, uma montanha, o sorriso de um belo rosto, a criança que vemos na rua. E existe também, para nós, a negação da beleza, a reação à beleza, que é o dizermos: “Isto é feio”. Mas a mente sensível é sensível tanto para o feio como para o belo e, por consequência, não há nenhuma busca daquilo a que chama belo e nenhuma evitação do feio. E com essa mente descobrimos que existe uma beleza inteiramente diferente das avaliações feitas pela mente limitada. Deveis saber que a beleza requer simplicidade, e a mente muito simples, que vê os fatos tais como são, é uma mente muito bela. Mas não podemos ser simples se não houver passividade, e não há passividade se não há austeridade. Não me refiro à austeridade da tanga, das longas barbas, do monge, do tomar só uma refeição por dia, porém à austeridade da mente que se vê como é e segue infinitamente aquilo que vê. E esse seguir é passividade, porquanto a mente a nada está apegada. A mente deve ficar completamente passiva, para ver “o que é”.
Assim, o percebimento da beleza requer a paixão da austeridade. Estou empregando propositadamente as palavras “paixão” e “austeridade”. Já expliquei o que é austeridade; e da paixão necessitamos obviamente para ver a beleza. Necessita-se de intensidade, e necessita-se de penetração. A mente embotada não pode ser austera, não pode ser simples e, por conseguinte, é sem paixão. É na chama da paixão que se percebe a beleza, que se pode “viver com a beleza”.
Talvez tudo isso, para vós, não passe de palavras, para serem lembradas, invocadas, sentidas, mais tarde. Não há “mais tarde”; não há “ínterim”. Isso tem de acontecer agora, enquanto conversamos, enquanto estamos em comunhão uns com os outros. E esse percebimento da beleza não reside apenas nas coisas — em vasos, estátuas, o céu — mas começa-se também a descobrir a beleza da meditação, e a intensidade, a paixão da mente meditativa.
Desejo agora apreciar a meditação, porquanto a meditação é necessária, e estamos aqui lançando as suas bases. Para a meditação, necessita-se de uma mente capaz de permanecer em silêncio — não uma mente posta em silêncio por meio de artifícios, de disciplina, de persuasão, de repressão, porém uma mente completamente tranquila. Isso é absolutamente essencial à mente que se acha num estado de meditação. Por conseguinte, a mente deve estar libertada de todos os símbolos e palavras. Ela é escrava das palavras, não? Os ingleses são escravos da palavra “rainha”, os indivíduos religiosos escravos da palavra “Deus”, etc. A mente atravancada de símbolos, de palavras, de ideias, é incapaz de estar em silêncio, quieta. E a emaranhada em seus pensamentos é incapaz de estar tranquila. Essa tranquilidade não é estagnação, um estado “em branco”, um estado de hipnose: mas ela pode ser alcançada “no escuro”, inesperadamente, sem volição e sem desejo, quando compreendemos o mecanismo do pensamento.
O pensamento, afinal de contas, é reação da memória; e a memória é o resíduo da experiência; e o resíduo da experiência é o centro, o “eu”. Assim se forma o centro, o “eu”, que é essencialmente acumulação de experiência, passada e presente, em relação tanto à coletividade como ao indivíduo. Desse centro, o resíduo da memória, emana o pensamento; e esse processo precisa ser compreendido completamente — e isso é autoconhecimento. Assim, sem autoconhecimento, consciente e inconsciente, a mente nunca estará tranquila. Só poderá hipnotizar-se para tornar-se tranquila, mas isso é infantil, sem madureza.
O autoconhecimento, portanto, é imediato, é necessário e urgente, porquanto a mente que conhece a si própria e a todos os seus artifícios, imaginações e atividades, pode chegar sem esforço, sem exigência, sem premeditação, ao estado de completa quietude. Conhecer a si mesmo é conhecer a totalidade do pensamento e saber como este divide a si próprio em “eu superior” e “eu inferior”. É o percebimento da totalidade desse movimento de experiência, memória, pensamento, e também do centro — pois o centro se torna pensamento, memória e experiência; e a experiência, por sua vez, se torna memória mediante o ulterior condicionamento da experiência.
Espero me estejais seguindo, pois, se vos observardes atentamente, podeis perceber isso. O centro nunca é estático. O que era “centro” se toma experiência, e a experiência se torna “centro”, e “o centro” se transforma em memória. E tal como causa e efeito. O que era causa se toma efeito, e o efeito se torna causa. E esse mecanismo não é só consciente, mas também inconsciente. O inconsciente é o resíduo da raça, do homem, oriental ou ocidental; essas tradições herdadas, no encontro com o presente, se transformam noutra tradição. Para se perceberem as múltiplas camadas do inconsciente e o seu movimento, necessita-se de uma mente bem penetrante e viva, que nunca esteja, por um momento sequer, a buscar segurança, conforto. Porque, no momento em que se busca segurança, conforto, está tudo acabado, vemo-nos atolados, aprisionados. A mente ancorada na segurança, no conforto, na crença, num padrão, num hábito, não pode ser ágil.
Eis, pois, o que é autoconhecimento; e conhecer a si mesmo significa descobrir o fato e seguir o fato sem nenhum interesse em modificá-lo. E isso requer atenção. Atenção é uma coisa, concentração outra coisa muito diferente. A maioria dos que desejam meditar espera adquirir o poder da concentração. Todo colegial sabe o que é concentração. Ele deseja olhar pela janela, e o mestre lhe diz: “Olha para teu livro”; e trava-se uma batalha entre o desejo de olhar para fora e a compulsão do medo, da competição, que o força a olhar para o livro. Concentração, pois, é uma forma de exclusão, não achais? E embora em tal “mecanismo” possais tornar-vos perspicazes, vossa mente está sendo limitada. Tende a bondade de ir seguindo isso, sem aceitar nem rejeitar, porém, simplesmente, observando.
A mente que se limita a concentrar-se conhece a distração; mas a que está atenta, não tolhida pela concentração, não conhece distração. Tudo, então, é movimento vivo. Compenetrai-vos bem disso e vereis como lançareis fora toda a carga de mandamentos religiosos que vos foi imposta e olhareis a vida de diferente maneira. Torna-se a vida então algo maravilhoso, extraordinariamente significativo — o verdadeiro viver que não é fugir.
Quando se dá a uma criança um brinquedo, cessa completamente o seu desassossego e ela se torna quieta, toda absorvida no brinquedo. E o mesmo acontece conosco; temos também nossos brinquedos: Mestres, salvadores, obras de arte; e, neles se absorvendo, a mente se torna quieta. Mas, essa absorção é morte para a mente.
Pois bem, a atenção não é o oposto da concentração; não está em relação com a concentração, e, por conseguinte, não é reação à concentração. Atenção é estar a vossa mente apercebida de cada movimento que se verifica dentro e fora dela própria. Significa, não apenas ouvir os barulhos do tráfego, mas também o que se está dizendo, e estar apercebido da reação ao que se está dizendo, apercebido sem escolha, para que não haja limitações à mente. Quando a mente está atenta dessa maneira, a concentração tem, então, significado completamente diferente; pode, então, a mente concentrar-se, mas tal concentração não é esforço, não é exclusão, porém parte do percebimento. Não sei se estais compreendendo bem.
Essa atenção é bondade; essa atenção é virtude; e nessa atenção encontra-se o amor e, portanto, aconteça o que acontecer, lá não pode existir o mal. O mal só se torna existente quando há conflito. A mente atenta, completamente apercebida de si mesma e de todas as coisas que se passam nela própria, é capaz de transcender a si própria.
A meditação, pois, não é um “mecanismo” de “saber meditar”, de se ser ensinado a meditar; isso é completamente infantil, pois daí provém hábito, e todo hábito torna a mente embotada. Aprisionada em seu próprio condicionamento poderá a mente ter visões do Cristo ou dos deuses indianos, ou do que quer que seja, mas, sem embargo, está condicionada. O cristão só pode ter visões do Cristo, e o hindu só pode ter visões dos seus deuses prediletos. A mente meditativa não é imaginativa; portanto, não tem visões.
Assim, quando a mente, depois de agitar-se inutilmente na esfera de seus próprios movimentos, começa a seguir a atividade de seus pensamentos, a amar o seu centro, seu movimento, suas experiências, só então é capaz de compreensão, só então está quieta.
Agora, um momento, Este orador pode comunicar-vos verbalmente o que então sucede, mas isso é muito sem importância, porque vós é que tendes de descobri-lo. Deveis chegar àquele estado, abrindo vós mesmo a porta. Se outro vos abre a porta, ou procura abri-la, então esse outro se torna vossa autoridade, e vós o seu seguidor. Por conseguinte, isso significa morte para a verdade; morte para a pessoa que diz que “sabe”, e morte para aquele que pede “ dizei-me” . A ânsia de saber gera a autoridade; desse modo, tanto o guia como o seguidor se acham presos na mesma rede.
Ora bem. Este que vos fala está-vos expondo isto tudo, não com o intuito de convencer-vos, ou estimular-vos, ou demonstrar-vos algo, ou coisa parecida, mas, sim, porque, quando o compreenderdes, vereis a relação existente entre o tempo e o espaço.
Quando a mente está completamente livre de barreiras, de limitações, acha-se então num estado de plenitude: e, nesta plenitude, está vazia: e nesse vazio pode conter o tempo — tempo como espaço e distância; tempo como ontem, hoje e amanhã. Mas, não havendo aquele vazio, não há tempo, nem espaço, nem distância. Por causa daquele vazio, existe o tempo e, portanto, distância e espaço. E quando a mente descobre isso, experimenta-o, não verbalmente, porém realmente, não como coisa lembrada — ela sabe, então, o que é criação — criação e não coisa criada. E vereis então que, ao dobrardes uma esquina, ao passeardes na floresta ou por uma rua imunda, ou onde quer que seja, sempre vos encontrareis com o Eterno.
A mente, pois, jornadeou pelo seu próprio interior, pelas últimas profundezas de si própria. Esta não é jornada semelhante à viagem à Lua num foguete, que é relativamente fácil, mecânica; e a jornada interior, a visão interior não é mera reação ao exterior. É um só movimento: interior e exterior. E quando há essa visão profunda, interior, essa atenção interior, esse movimento interior, a mente, então, já não está separada do Sublime. Por conseguinte, toda busca, toda ânsia, tudo terminou.
Por favor, não vos deixeis hipnotizar, influenciar por minhas palavras. Se estais influenciados, não podeis saber por vós mesmos o que é o amor. A meditação é o descobrimento dessa coisa extraordinária que se chama Amor.
Krishnamurti, Londres, 23 de maio de 1961, O Passo Decisivo
Krishnamurti, Londres, 23 de maio de 1961, O Passo Decisivo