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quinta-feira, 5 de abril de 2018

Pode a mente, de fato, dizer “Não sei”?


Pode a mente, de fato, dizer “Não sei”?

PERGUNTA: Tendo “experimentado” seriamente, durante muitos anos, o vosso ensino, tornei-me plenamente apercebido da natureza parasitária da consciência do “eu”, cujos tentáculos vejo estender-se a cada um dos meus pensamentos, palavras e atos. E o resultado foi que perdi toda a confiança em mim mesmo, todo o incentivo. O trabalho se me tornou canseira, e o laser tédio. Minha existência é uma quase constante tortura psicológica, e mesmo essa tortura me parece ser um truque do “eu”. Vejo-me num beco sem saída, em todos os setores da minha vida, e pergunto-vos o mesmo que tenho perguntado a mim próprio: E agora?

KRISHNAMURTI: Estais “experimentando” o meu ensino, ou estais “experimentando” a vós mesmo? Espero que percebais a diferença. Se estais “experimentando” as coisas que digo, tendes então de chegar ao ponto de perguntardes “E agora?”, porque nesse caso estais forcejando para alcançar um resultado que pensais que eu alcancei. Pensais que eu tenho uma coisa que vos não tendes, e que se “experimentardes” o que digo, a ganhareis também. É assim que procede a maioria das pessoas. Interessamo-nos por essas coisas com uma mentalidade comercial: Fazer isto, a fim de obter aquilo. Rezarei, meditarei, e farei sacrifícios, a fim de obter uma certa coisa.

Ora, vós não estais praticando o meu ensino. Eu nada tenho para ensinar. Ou, melhor, eu só vos digo que observeis a mente, que vejais até que profundezas ela pode chegar. Portanto, vós é que sois importante, e não o ensino. É de muita importância descubrais vossos próprios modos de pensar e, tudo o que esse pensar implica, como estive tentando mostrar-vos hoje de manhã. E se estais observando o vosso próprio pensar, se estais vigilante, “experimentando”, descobrindo, largando, isto é, morrendo cada dia para tudo o que acumulastes, então nunca fareis a pergunta “E agora?”

Vede, a confiança é uma coisa completamente diferente da “confiança em si mesmo”. A confiança que nasce quando estamos descobrindo, momento por momento, é toda diferente da confiança em si mesmo, resultante da acumulação de descobrimentos, que se tornam saber e vos conferem importância. Percebeis a diferença? Por conseguinte, o problema da confiança em si mesmo desaparece completamente. Há só o constante movimento do descobrir, a constante leitura e compreensão, não de um livro, mas de vossa própria mente, de toda a vasta estrutura da consciência. Não estais então em busca de resultado algum. É só quando buscais um resultado, que dizeis: “Pratiquei tais e tais coisas, mas não ganhei nada com isso e perdi a confiança em mim mesmo. E agora?” Mas, se, ao contrário, estais examinando e compreendendo os movimentos da vossa mente, sem visardes uma recompensa, um alvo, sem o incentivo de ganho, há então autoconhecimento, de onde vereis surgir uma coisa maravilhosa!

PERGUNTA: Como impedir que o percebimento se torne uma técnica nova, “a última moda” em matéria de meditação?

KRISHNAMURTI: Sendo esta uma questão muito séria, vou examiná-la com certa profundeza, e espero não estejais fatigados demais, para seguirdes, com uma vigilância sem, tensão, as operações da vossa própria mente.

É importante meditar, porém mais importante ainda é compreender o que é meditação, pois do contrário a mente ficará restrita a mera técnica. O aprender uma nova técnica consistente em respirar de certa maneira, ficar sentado em certa posição, com o tronco ereto, ou praticar um dos vários sistemas de silenciar a mente — nada disso é importante. O importante é que vós e eu investiguemos o que é meditação. Nesse próprio investigar do que é a meditação, estou meditando. Compreendeis? Ouvi com calma, Senhores; não concordeis nem discordeis.

É sumamente Importante o meditar. Se não sabeis o que é meditação, isso é como ter nas mãos uma flor sem perfume. Podeis ter um extraordinário talento oratório, saber pintar ou gozar a vida, possuir conhecimentos enciclopédicos e saber relacioná-los, mas todas essas coisas não terão significação alguma, se não sabeis o que é meditação. Meditação é o perfume da vida, tem beleza infinita. Abre portas que a mente não é capaz de abrir, penetra profundezas inacessíveis à mente mais erudita. A meditação, pois, é importantíssima. Mas sempre fazemos a pergunta errada e por isso obtemos, resposta errada. Dizemos: “Como meditar?”, e lá vamos à procura de um certo swami, de uma certa pessoa extravagante, ou apanhamos um livro, ou seguimos um sistema, na esperança de aprendermos a meditar. Ora, se pudermos varrer tudo isso para o lado— os swamis, os iogues, os intérpretes, os mestres de respiração e de imobilidade — chegaremos inevitavelmente a esta pergunta: “Que é meditação?”

Escutai agora com atenção. Não estamos mais perguntando como meditar, nem qual é a técnica da vigilância, mas, sim, o que é meditação — que é a pergunta correta. Se fazeis uma pergunta incorreta, recebeis resposta incorreta; mas, se fazeis a pergunta correta, então esta própria pergunta revelará a resposta correta. Assim, que é meditação? Sabeis o que é meditação? Não repitais o que ouviste outro homem dizer, ainda que, como eu, conheçais alguém devotado à meditação há vinte e cinco anos. Vós sabeis o que é meditação? É claro que não sabeis, não é exato? Podeis ter lido o que muitos sacerdotes e santos e eremitas disseram a respeito da contemplação e da oração, mas não me estou referindo a nada disso. Estou falando sobre a meditação; não interessa o significado lexicológico da palavra, que podeis procurar depois no dicionário. Que é meditação? Não sabeis. E sobre esta base é que meditais!... (Risos). Não riais, por favor; continuai a escutar. “Eu não sei” — alcançais a beleza desta frase? Ela significa que minha mente está despida de toda técnica, toda informação a respeito da meditação, tudo o que outros dela disseram. Minha mente não sabe. Só podemos avançar na investigação do que é a meditação, quando somos capazes de dizer honestamente “Não sei”; e não se pode dizer “Não sei” se persiste em nossa mente qualquer vislumbre de informações de segunda, mão — o que disse o Gita, ou a Bíblia, ou São Francisco, a respeito da contemplação ou das virtudes da oração, coisa de que tanto se fala nas revistas, hoje em dia, e que se tornou a última moda. Tudo isso tendes de afastar de vós, porque, se copiais, se seguis, revertereis ao “coletivo”.

Nessas condições, pode a mente pôr-se no estado em que seja capaz de dizer “Não sei”? Esse estado é o começo e o fim da meditação, porque, nele, cada experiência é compreendida e não guardada. Entendeis? Desejais controlar o vosso pensar; e quando controlais o pensar, não permitindo distrações, vossas energias se consomem no controlar e não no pensar. Compreendeis? Só pode haver acumulação de energia, quando não a desperdiçamos em controlar, em subjugar, em lutar contra distrações, suposições, pretensões, incentivos. E esta enorme carga de energia, de pensamento, é completamente sem movimento. Compreendeis? Quando dizeis “Não sei”, não há movimento do pensamento, não é verdade? Só há movimento de pensamento quando começais a indagar, a investigar, já que vossa investigação vai sempre do conhecido para o conhecido. Se não estais compreendendo agora, talvez compreendais mais tarde.

A meditação é um processo de purificação da mente. A purificação da mente só é possível quando não há “controlador”. No controlar, o controlador dissipa energia. A dissipação de energia resulta do atrito entre o controlador e o objeto que ele quer controlar. Mas quando dizeis “Não sei”, não há movimento do pensamento em direção alguma, visando a uma resposta; a mente está de todo em todo imóvel. E para que a mente esteja imóvel, faz-se necessária uma energia extraordinária. A mente não pode estar imóvel, se lhe falta energia — não a energia que se dissipa no conflito, na repressão, na dominação, na oração, no buscar, no rogar, mas aquela energia que é total atenção. Todo movimento do pensamento em qualquer direção representa dissipação de energia, e para que a mente possa ficar em completa imobilidade, é necessária a energia da atenção total. Só então pode surgir uma coisa que não podemos chamar a nós, que não podemos ir procurar, uma coisa que dispensa a respeitabilidade, que não se ganha com a virtude nem com sacrifícios — o Estado Criador, o Atemporal, o Real.

Krishnamurti, 28 de agosto de 1955
Realização sem esforço
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill