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quinta-feira, 5 de abril de 2018

A libertação do “eu” e da própria mente


A libertação do “eu” e da própria mente

PERGUNTA: Muitos dos que passaram pela desastrosa experiência da guerra parecem incapazes de achar o seu lugar no mundo moderno. Jogados para todos os lados pelas vagas desta sociedade caótica, flutuam à deriva, de ocupação em ocupação, e sua vida é lastimável. Sou uma dessas pessoas. Que devo fazer?

KRISHNAMURTI: Quando uma pessoa está em revolta contra a sociedade, que acontece, geralmente? Sob compulsão ou impelida pela necessidade, ela se submete a um certo padrão social e fica sustentando uma batalha incessante dentro de si mesma e com a sociedade. A sociedade fez de vós o que sois, desencadeou, guerras e semeou a destruição. Esta civilização baseia-se na inveja, na agitação, suas religiões não produzem nenhum homem religioso. Pelo contrário, destroem o homem religioso. Que pode então um indivíduo fazer? Alquebrado pela guerra, ou se torna neurótico, ou para não se tornar neurótico recorre à ajuda de alguém, procurando adaptar-se ao padrão social. E continua, assim, a manter-se uma sociedade produtiva de insânia, de guerras e de corrupção. Ou, ainda — o que realmente é dificílimo — o indivíduo pode examinar toda a estrutura da sociedade e libertar-se dela. Estar livre da sociedade significa não ser ambicioso, não ser ganancioso, não ser competidor; significa “ser nada”, perante essa sociedade que luta para ser algo. Mas esse estado é muito difícil de aceitar, porque o indivíduo está sujeito a ser pisado, empurrado para o lado, e nada possuirá. Nesse “estado de nada” há sanidade, e não no outro. No momento em que perceberdes isso, no momento em que fordes o mesmo que nada, nesse momento a Vida cuidará de vós. Ela o fará. Algo acontecerá. Mas isso requer uma profundíssima penetração da estrutura da sociedade. Enquanto queremos fazer parte dessa sociedade, havemos de gerar a insânia, as guerras, a destruição e o sofrimento; mas o libertarmo-nos dessa sociedade, que é a sociedade da violência, da riqueza, da posição, do sucesso — isso exige paciência, investigação, descobrimento, e não a leitura de livros, a busca ansiosa de instrutores, psicólogos, etc.

PERGUNTA: Estou intrigado com esta frase que empregastes na vossa palestra da semana passada: “uma mente perfeitamente controlada”. Uma mente controlada não supõe a vontade ou uma entidade controladora?

KRISHNAMURTI: De fato empreguei a expressão “uma mente controlada”, e pensava ter esclarecido a sua significação. Vejo, entretanto que não fui compreendido, e por isso explicar-me-ei de novo.

Não é necessário termos, não uma mente controlada, mas uma mente muito firme, uma mente sem distrações? Segui-me por favor. A mente não sujeita a distrações é aquela em que não existe nenhum interesse central. Quando há interesse central, há distrações. Mas a mente que está completamente atenta, mas não para um determinado objeto, é uma mente firme.

Ora, examinemos rapidamente a questão do controle. Quando há controle, há uma entidade que controla, que domina, que sublima ou procura substitutos. No controle, pois, há sempre um mecanismo dual: a entidade que controla e a coisa que é controlada. Por outras palavras, há conflito. Com certeza percebeis isso. Há a entidade que controla, que avalia, que julga, o juiz, o experimentador, o pensador; e, do lado oposto, a coisa que está sendo examinada, controlada, reprimida, sublimada, etc. Há, assim, sempre uma batalha entre duas entidades: o que é, e o que diz “devo ser”. Esta contradição, este conflito, é um desperdício de energia. E é possível ficarmos só com o fato, sem o “controlador”? É possível eu perceber o fato de que sou invejoso, sem dizer que é mau ser invejoso, que é um estado anti-social, anti-espiritual, que deve ser modificado? Pode a entidade que avalia desaparecer completamente e restar só o objeto? Pode a mente considerar o fato sem avaliação, quer dizer, sem opinião? Quando há opinião a respeito de um fato, há confusão, conflito. Espero que estejais compreendendo.

A confusão é um desperdício de energia, e a mente está necessariamente confusa quando se abeira de um fato com uma conclusão, uma ideia, opinião, juízo, condenação. Mas quando a mente percebe o fato como verdadeiro, sem ter opinião a seu respeito, há então apenas a percepção do fato, e desta percepção resulta uma extraordinária firmeza e sutilidade da mente, porque então não há mais diversões nem fugas, nem juízos, nem conflito, de modo que a mente não desperdiça as suas energias. Só há, então, pensar, sem pensador; mas o experimentar de tal coisa é dificílimo.

Vede o que ocorre. Assistis a um belo pôr de sol. No momento preciso em que o presenciais, não há experimentador, há? Só há o sentimento de uma grande beleza. Depois, a mente diz: Que belo que foi! Desejo mais" — e começa o conflito do experimentador a desejar mais experiência. Ora, pode a mente achar-se num “estado de experimentar”, sem haver experimentador? O experimentador é memória, é o coletivo. Estais percebendo? Posso contemplar o pôr do sol, sem comparar, sem dizer “Que belo espetáculo, quem me dera gozá-lo mais vezes!” — posso? O mais é produto do tempo, que encerra o medo de terminar, o medo da morte.

PERGUNTA: Há dualidade entre a mente e o “eu"? Se há, como libertar a mente do “eu"?

KRISHNAMURTI: Existe dualidade entre o “eu”, a pessoa, o “ego”, e a mente? Certo, não existe. A mente é o “eu”, o “ego”. O “ego”, o “eu”, é esse impulso de inveja, brutalidade, violência, essa falta de amor, essa busca perene de prestígio, posição, poder, essa luta para se ser alguma coisa; e isso é o que a mente também está fazendo, não é? A mente está sempre a pensar em como progredir,­ adquirir mais segurança, uma posição melhor, mais conforto, mais riqueza, mais poder e tudo isso é o “eu”. A mente, portanto, é o “eu”; o “eu” não é uma coisa separada, embora gostemos de pensar que o seja, porque então a mente pode controlar o “eu”, fazer esse jogo de vaivém, de subjugar o “eu”, procurar alterá-lo — jogo infantil da mente educada, “educada” no sentido errôneo que se costuma dar à palavra.

Assim, pois, a mente é o “eu”, esta mesma estrutura aquisição. E o problema é: Como pode a mente libertar-se de si própria? Tende a bondade de seguir isto. Se a mente faz qualquer movimento para se libertar, ela é ainda “eu”, não achais?

Vede: Eu e minha mente somos a mesma coisa; não há divisão entre mim e a minha mente. O “eu” que é invejoso, ambicioso, é a mesmíssima mente que diz “Não devo. ser invejosa, devo ser nobre” — o que acontece é só que a mente dividiu a si mesma. Ora, se percebo isso, que devo fazer? Se a mente é produto do ambiente, da inveja, da avidez, de condicionamento, que lhe compete fazer? Sem dúvida, todo movimento que ela faça para se libertar, decorre desse condicionamento, não é exato? Estais compreendendo? Todo movimento que a mente faz para se libertar de seu condicionamento, é ação do “eu” que quer ser livre, a fim de ser mais feliz, ter mais paz, sentir-se mais perto da mão direita de Deus-Pai. Mas eu percebo tudo isso, todos os movimentos e truques da mente. Por conseguinte, a minha mente está quieta, completamente tranquila, imóvel; e nesse silêncio, nessa tranquilidade encontramos a libertação do “eu” e da própria mente.

Por certo, o “eu” só tem existência no movimento da mente para obter alguma coisa ou evitar alguma coisa. Se não há movimento de obtenção ou evitação, a mente está então muito tranquila. E só então nos é dada a possibilidade de ficar livres da totalidade da consciência, como “coletivo” e como oposto do coletivo.

Krishnamurti, 28 de agosto de 1955
Realização sem esforço
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill