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quarta-feira, 4 de abril de 2018

Sobre o mecanismo do temor


Sobre o mecanismo do temor

PERGUNTA: O medo é uma qualidade distinta, identificável, da mente, ou é a própria mente? Pode ele ser eliminado pela mente, ou só pode chegar ao seu fim depois que a mente cessar de todo? Se esta pergunta é confusa, posso formulá-la diferentemente: O medo é sempre um mal que cumpre vencer, e nunca um bem disfarçado?

KRISHNAMURTI: Está feita a pergunta: tentemos juntos — vós e eu — descobrir o que é o medo e se é possível erradicá-lo. Ou, como sugere o seu autor, ele talvez seja um bem disfarçado. Vamos descobrir a verdade contida nesta questão; mas, para a descobrirmos, embora seja eu quem está falando, cumpre-vos investigar os vossos próprios temores, para ver como surge o medo.

Temos várias espécies de medo, não é verdade? O medo existe em diferentes níveis do nosso ser; há o medo do passado, o medo do futuro e o medo do presente, que é a verdadeira ânsia dos viventes. Ora, que é esse medo? Não é produto da mente, do pensamento? Penso no futuro, na velhice, na pobreza, na morte, e esse quadro me faz medo. O pensamento “projeta” um quadro que provoca ansiedade na mente; o pensamento, pois, cria o seu próprio temor, não é verdade? Fiz algo insensato e não quero que se me chame a atenção para isso, quero evitá-lo, temo as consequências. Isso, também, é um processo de pensamento, não achais? Quero reconquistar a felicidade da juventude; ou, porventura, vi ontem algo na montanha banhada de sol, algo que se esvaeceu, e desejo tornar a experimentar aquela beleza; ou, quero ser amado, satisfazer-me, realizar algo, quero ser alguém; por esse motivo há ansiedade, temor. O pensamento é desejo, memória, e suas reações causam temor, não é verdade? Temendo o amanhã, temendo a morte e o desconhecido, começamos a inventar teorias, — que renasceremos, que nos tornaremos perfeitos pela evolução, e nestas teorias a mente vai buscar proteção. Porque estamos perenemente em busca de segurança, edificamos igrejas em torno de nossas esperanças, nossas crenças e dogmas, pelos quais estamos prontos a lutar; e tudo isso representa, ainda, o processo do pensar, não é exato? E se não podemos dissolver o nosso temor, nossa barreira psicológica, vamos pedir socorro a outro.

Enquanto eu pensar tão somente em termos de realização, de preenchimento, de não-vir-a-ser, estarei sempre na sujeição do temor, não é verdade? O mecanismo do pensar, como o conhecemos, com seu desejo egocêntrico de ser bem-sucedido, de não sentir-se só, vazio, esse mesmo mecanismo é a sede do temor. E pode a mente que está toda ocupada consigo mesma, que é produto de seus próprios temores, dissolver o temor?

Suponhamos que um indivíduo tenha medo e reconheça as várias causas do seu temor. Pode aquela mesma mente que produziu o temor eliminar o temor pelo seu próprio esforço? Enquanto a mente estiver ocupada com o temor, procurando uma forma de livrar-se dele, descobrir o que deve fazer para vencê-lo, poderá ela, em algum tempo, ficar livre do temor? Por certo, a mente só pode ser livre de temor quando já não está ocupada com ele — o que não significa fugir ao temor, ou tentar ignorá-lo. Em primeiro lugar, precisamos estar plenamente apercebidos de que temos medo. Em geral, não temos completa percepção do temor: estamos vagamente apercebidos dele: e se chegamos a vê-lo, cara a cara, ficamos horrorizados e fugimos dele, atirando-nos a atividades várias que só levam a novos malefícios.

Como é a própria mente produto do temor, o que quer que ela faça para o afastar de si, só pode aumentá-lo mais ainda. Nessas condições, pode alguém estar somente apercebido do seu temor, sem se ocupar com ele, sem julgá-lo e sem procurar alterá-lo? Estar apercebido do temor, sem condenação, não significa aceitá-lo, acolhê-lo no coração. Estar apercebido do temor, sem escolha, significa simplesmente observá-lo, olhar para ele, saber que está presente e perceber a verdade a seu respeito; e o percebimento da verdade relativa ao temor dissolve-o. A mente não pode dissolver o temor por nenhuma ação dela própria; em presença do temor, o que ela deve fazer é ficar muito quietaconhecer, e não agir. Tende a bondade de prestar atenção a isso. Devemos saber que sentimos medo, devemos estar plenamente apercebidos dele, sem nenhuma reação, sem nenhum desejo de alterá-lo. A alteração, a transformação não pode ser operada pela mente; só pode realizar-se pelo percebimento da verdade, e a mente não pode perceber o que é verdadeiro quando está preocupada a respeito do temor, quando o está condenando ou desejando livrar-se dele. Toda ação da mente com respeito ao temor, aumenta-o, apenas, ou ajuda à mente a fugir dele. Só há um estado livre de temor quando a mente, de todo apercebida dos seus temores, não está em atividade com relação a eles. Surge então um estado completamente diferente, um estado que a mente de modo nenhum pode conceber ou inventar. Eis porque é tão importante que se compreenda o “mecanismo” da mente, não de acordo com algum filósofo, analista ou instrutor religioso, mas tal como ele está realmente funcionando em vós, momento por momento, em todas as vossas relações, — quando repousais, andais, ouvis alguém, quando ligais o rádio, ledes um livro ou conversais à mesa. Estar plenamente apercebido de si mesmo, sem escolha, é manter a mente numa extraordinária vigilância; e nessa vigilância há autoconhecimento, o começo da sabedoria. A mente que luta contra o temor, nunca dissolverá o temor; mas, quando há um percebimento passivo do temor, surge então um estado diferente, no qual o temor é inexistente.

Krishnamurti em, Percepção Criadora,
 4 de julho de 1953
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill