Pergunta: O Bispo Leadbeater explicou recentemente, ao falar aos
membros da Igreja Católica Liberal: “Krishnaji não está falando principalmente
para vós ou para mim, — pessoas que
somos acostumados durante anos a pensar coisas superiores, que percebem algo de
relativa importância da vida interna; ele dirige-se às entidades medianas não
despertas, cujos pensamentos especialmente se centralizam em redor de corridas
de cavalos, lutas a prêmio, futebol, negócios ou prazeres; ele precisa
encontrar uma fraseologia que penetre bem fundo numa camada tão sólida... Para
que um reformador possa movimentar um mundo despreocupado e volúvel tem de falar fortemente, tem que insistir
sobre o ponto especial que estiver mencionando, tem que ignorar todas as
considerações que contra ele se externam. Tem que ser inteiramente concentrado, sobre um ponto único,
nada mais valendo senão o seu lado especial; para resumir, precisa
ser fanático.” Endossais esta explicação de que sois um reformador fanático,
que fala principalmente para uma multidão que ama o prazer?
Krishnamurti: O que digo
é para todos. O que digo é para sábios e não sábios. Não sois todos vós
daqueles que buscam o prazer? Não vos encontrais todos colhidos por este mundo
de sensação, sejam quais forem as sociedades a que pertenceis? Não vos
encontrais ainda presos nas garras da tristeza, dos desejos, das limitações? Estou
falando à todas as pessoas que quiserem escutar, sem olhar à sua sabedoria e,
se fordes sábios, escutareis com sabedoria, sem vos dardes conta de distinções.
Compete a todo o ser humano julgar por si mesmo. O homem é o seu próprio
libertador. Por favor, compreendei isto, — o que digo é para o homem que está
por baixo e para o que está no alto, pois que tanto o do alto como o de baixo
se apercebem ainda de suas diferenças, e daí manifesta-se a libertação e dentro
de seus corações e mentes existe a tristeza. Eu falo à tristeza, seja qual for
o indivíduo em que ela exista. Falo a essa causa de limitação que não é senão a
autoconsciência, seja qual for o ser humano em que ela se manifeste. Todos vós
pertenceis a este mundo de tristeza; todo o ser humano pertence a este mundo de
tristeza; e seria uma pena, seria coisa triste, se vos segregásseis e pensásseis
haver encontrado o fim, quanto isto não se deu. A verdade não reside em
distinções, Sociedades, Ordens, Igrejas ou no culto de um outro “eu sou”. Ella
reside na conduta reta para com todos os seres, no alcançar esse extraordinário
equilíbrio da razão e do amor e a esse amor no qual não existe separação. Isto
implica-se a todos os seres, a todo o ente humano, a toda a coisa em limitação.
Assim, pois, o que digo é para o sábio como para aquele que não o é.
Krishnamurti em Acampamento da estrela de Ommen, 1 de agosto de 1930