Pergunta: Não são as pessoas no mundo semelhantes às crianças que não
podem pensar por si próprias? Não terão vossos ensinos que passar-lhes pelos
ouvidos até que elas tenham crescido e se tornarem adultos em sua natureza por
meio da evolução e do sofrimento e tenham assim inteligência bastante para
compreender-vos? Não lhes levará ainda alguns séculos o abandonarem sua
infantilidade? Podem abandoná-la mais cedo? Se assim é, como?
Krishnamurti: Porque vos
incomodais acerca das outras crianças? Estamos sempre nos preocupando com qualquer
outra pessoa. A coisa que vos importa é se vós
compreendeis e não se os outros compreendem. Por acaso cada qual de vós de per
si, individualmente, compreende já aquilo de que vos falo? É uma fuga, uma
evasiva, o vos preocupardes com os outros antes do que em atingirdes por vós
mesmos uma solução. Para compreender, necessitais viver. Compreender é sinônimo
de viver. A maioria das pessoas não vivem isto pelo fato de o não compreenderem,
isto é, não vêm o significado da vida; e daí o preocuparem-se com os outros. Se
quiserdes alterar a mentalidade mecanizada e escravizada do mundo, que converte
os homens em padrões, em seres padronizados, tendes que romper com a máquina,
tendes que crescer na uniquidade. O assunto de importância para vós é este: vós
estais vivendo? O que eu digo já tornou-se parte de vós? Não vos preocupeis com
os outros pois que os outros são vós mesmos. A partir do momento que
compreendais a vós mesmos, compreendereis os problemas dos outros e por esse
modo podereis auxiliar os outros a encontrar a solução. Portanto, compreendei,
resolvei, vede a significação da vida por vós mesmos; e então não haverá um mundo
convertendo-se em um padrão, que cultua os muitos no uno.
Pergunta: Concordamos, intelectualmente, com o que dizeis porém achamos
difícil caminhar conforme a linha que indicais. Sendo assim, como poderemos
nós, pessoas vulgares, cumprir essas coisas?
Krishnamurti: Temo que
intelectualmente não compreendais. Quereis dizer que vossa razão, vosso
intelecto diz que eu estou com a razão e que não sabeis como obedecer aos seus
ditames? Não, amigos! Vós somente quereis relegar esta dificuldade para o reino
da intelectualidade. Tal como disse um amigo meu outro dia, na Europa: “Eu vos
compreendo intuitivamente, porém meu intelecto se insurge contra o que dizeis
e, portanto, sigo a minha inteligência”. É exatamente o que estais vos
esforçando por dizer em outros termos. Se o vosso intelecto, que deve ser o
resultado de toda a experiência, estiver de acordo, então tendes que obedecer;
não podeis fazer outra coisa. Não vejo dificuldade nisto. Se a vossa razão, se
a vossa intuição disser que o que eu estou externando é reto, então, obedecei,
se fizer parte de vós.
Pergunta: Proporciona-nos vossa presença no mundo um auxílio qualquer
que de outro modo não poderíamos ter? Por favor, explicai.
Krishnamurti: Proporciona
o sol auxílio à semente? Por acaso um pensador que pense com clareza
proporciona àqueles que o rodeiam e que estão de mente confusa, algum auxílio?
Que pergunta me fazeis! Proporciona a chuva satisfação às terras abrasadas e
estéreis? Se estais satisfeitos, se estais contentes, se estais estagnados,
ninguém vos pode auxiliar. Se estiverdes descontentes, se estiverdes ansiosos
por descobrir, interessados e cheios de energia nesse interesse, então tudo vos
auxiliará, inclusive eu mesmo.
Jiddu Krishnamurti em 2 de janeiro de 1930