Pergunta: Se na busca do amor impessoal, nos descartarmos
prematuramente do amor pessoal, não existirá aí o perigo de nos tornarmos
áridos, duros e indiferentes?
Krishnamurti: Por que vos
haveis de desembaraçar do amor pessoal? Porque achais muito difícil contender
com ele. Necessita-se de muito ajuste, ele exige a cooperação de dois e por
isso vos evadis e, no fugir da realidade, do próprio amor, tornais a vida árida,
dura, amarga; vossas bocas e olhos tornam-se duros, toda a vossa aparência
externa se torna dura. O amor é a sua própria eternidade, a sua própria
continuidade, a sua própria divindade; ele não está longe de algo, está em
todas as coisas. É pelo conflito do amor pessoal que encontrais o amor impessoal.
Há um perigo em todas as coisas; porém, afim de colocardes à prova a qualidade
de vossa força, deveis tentar a cada minuto do dia verificar que o amor é todo inclusivo, não exclusivo.
Pergunta: Não tomará o entendimento o aguilhão da tristeza e daí
afrouxando o impulso para a libertação?
Krishnamurti: Não para o
homem que transcendeu a tristeza. O entendimento provém do perfeito equilíbrio da
razão e do amor e nesse equilíbrio mora o entendimento da Verdade. Como
resultante de muitas lutas, percebeis a realidade e daí a luta diminui.
Portanto, de
nada vale o querer fugir à tristeza; se plenamente não houverdes compreendido,
dela não podereis fugir. A isto não se chega pela evasão, pelo evitar, porém
pelo realizar, pela contínua observação daquilo que é real em todas as coisas,
e pelo contínuo ajuste a essa realidade.
Krishnamurti em Acampamento da estrela de Ommen, 4 de agosto de 1930
(Campfire)