Após um dia fatigante de
meditação profunda gasto no esforço por buscarmos por nós mesmos nossa verdadeira
orientação, uma tarde tranquila e plácida, em que nos sintamos quietos sem fazer
esforço e à vontade, é coisa admirável. Em uma tal ocasião não necessitamos de
nos concentrar; deveríamos possuir uma mente liberta em todo o pensamento, de
toda a confusão, tranquila e serena. Assim, pois, quando nos sentamos em redor
do fogo, com toda esta tranquila beleza das árvores plácidas ao redor, não é
necessário fazer um esforço violento na direção do pensamento concentrado. O
que é necessário é manter certa determinação de propósito, posto que a mente
esteja em repouso.
Assim, pois, durante estes dias
de considerado e ponderado exame, quando pelas tardes nos reunirmos em redor
deste fogo, espero que teremos essa serenidade da mente que é tranquila. Uma
das coisas mais difíceis de atingir é a tranquilidade mental, que não é nem
vacuidade, nem negação, nem tão pouco uma condição de sono. Quando a mente se
acha assim tranquila, é quando é toda reflexão. Ela fica tão plácida, tão
serena, que não necessita de fazer esforço para pensar. Porém para chegar,
chegar a essa feliz condição de cogitar desimpedido, de tranquilidade da mente,
o dia tem que ser gasto com suprema energia na direção da observação e da
concentração; toda a vossa energia deve ser reservada para essa busca, para o
exame e análise de todo o pensamento que se insinue na mente durante o dia.
Então, pode-se dar, a esta, quando a tarde chega, o descanso de tranquila quietude.
Krishnamurti em Acampamento da estrela de Ommen, 2 de agosto de 1930
(Campfire)