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sábado, 30 de julho de 2016

A natureza do ego

A inteligência plenamente liberta não é consciente nem de subjetivo nem do objetivo considerados como tais. Ela inclui a ambos na pura realização. Uma tal inteligência, ao demais disso, não é um Ego. É absolta impersonalidade — a qual, apesar disso, conserva a faculdade de pensar, sentir e agir.

O ego, não é uma entidade. Pode mais veridicamente ser denominado um sintoma. Ele surge na consciência somente quando o livre fluxo da vida é obstruído. Podemos encontrar disto uma analogia familiar em nossos próprios corpos. Normalmente somos perfeitamente inconscientes de nossos órgãos internos; eles somente se fazem notar quando algo anormal com eles se passa. Pela mesma forma, se estivéssemos em perfeita saúde espiritual não seríamos conscientes de “eu-dade” alguma separatista. O fato, porém, é que não nos encontramos em saúde espiritual; não existe, na maioria de nós, o verdadeiro e não impedido fluxo da vida. E daí, apercebemo-nos da obstrução —e é esta obstrução o que a nós parece ser o nosso eu. 

É um erro, portanto, discutir a questão do Ego e de sua persistência como se se tratasse de uma entidade real tendo perante si somente duas alternativas — ou permanecer como está (isto é, uma entidade real) ou ser abolido. O Ego, como entidade, não possui e jamais possuiu existência, qualquer que ela seja. Nada mais é quem um sintoma de desordem interna, à qual, em nossa ignorância, vimos atribuindo o ser objetivo.

Em cada um de nós é a vida somente que age, sente e pensa; porém, dado o fato de ser por enquanto incapaz de manifestar-se com essa absoluta liberdade e pureza que lhe pertence como vida, a ilusão de um Ego é assentada — uma ilusão que é tão pouco entidade objetiva como o é a protuberância causada pela picada de um mosquito. O Ego existe somente quando o imaginamos.

De fato é possível a qual um de nós eliminar a consciência de Ego e restabelece-la vinte vezes ao dia. Quem quer que esteja completamente absorvido em alguma tarefa simultânea e funcionando livremente nessa tarefa deslizará da consciência de Ego, automaticamente, enquanto que a concentração persiste — e tanto assim é que frequentemente “volta a si próprio” com uma espécie de estremecimento quando ela passa. A absorção absoluta em qualquer atividade é, na verdade, tudo de que necessita para provar quão ilusório é o sentimento de eu-dade e quão não essencial para a plenitude e intensidade do viver. Significa, porém, isto que o homem que se acha absolutamente centrado esteja temporariamente nas mesmas condições do homem liberto? Não; a não ser que esteja ao mesmo tempo em contato com a Verdade. No que se refere ao Ego, acha-se ele em um estado que se assemelha ao da libertação, exatamente como um homem que ama a certo indivíduo intensamente e exclusivamente se assemelha, dentro dos limites de seu afeto particular, ao homem cujo amor abrange a todo o mundo pela mesma forma. Porém, o indivíduo concentrado ordinário, engana-se por duas maneiras: em primeiro lugar sua perda do eu separado é temporária; em segundo lugar, enquanto perdura, depende de certa atividade especial que cessa logo que a atividade passa.

A consciência liberta, por outro lado, jamais pode deslizar retrospectivamente para a eu-dade, separada, porém, permanece tão livre da separatividade quando se acha em estado de suspensão como quando se encontra empenhada em alguma atividade definida. E a razão disto é que ela tem sua morada na Verdade. Somente a Verdade pode proporcionar essa ausência de todo o egoísmo, a qual é independente de todas as condições mutantes e portanto, não é devida a qualquer coisa de exterior ao próprio homem.

O que ocasiona a maior parte das dificuldades nestas discussões acerca do Ego é o não acharmos fácil distinguir entre um eu que é puro sujeito ativo e um eu ao qual podem acontecer coisas e que, por consequência, pode tornar-se objeto. O eu real — o eu que continua para sempre e que a libertação não pode afetar — jamais pode ser objeto. Ele é eternamente sujeito e expressa-se a si mesmo, no que se denomina a “pura ação”; no passo que o outro eu somente vem à existência ilusória quando houver “reação”, isto é, quando o movimento — vida, por qualquer razão, for detido e feito retroceder sobre si mesmo. É somente este último eu que é o Ego. O outro eu é completamente não egoísta. É absoluto — pois que é a própria vida, a vida que despertou no auto-apercebimento.

Porém, que acontece à “uniquidade individual?” Não será esse eu que é puro, sujeito à mesma coisa que aquele?

Sim. Isto, porém, não a impede de ser vida universal ao mesmo tempo. Quando falamos de “tornar-nos unos com toda a vida”, não devemos pensar nesse todo sujeitando-o a termos de espaço — quantidade.

A totalidade, neste sentido, é o todo como qualidade. Significa pureza absoluta. O conjunto integral da vida pode existir em um ponto único, se a vida nesse ponto se encontrar absolutamente pura. Isto é que torna possível à vida do homem liberto o ser ao mesmo tempo individual e universal. A pura vida, em si mesma considerada, jamais pode atuar de outra maneira que não seja universalmente. Assim, pois, quando um homem houver purificado completamente a si mesmo de modo absoluto, — quando houver extirpado de sua natureza os últimos resquícios de egotismo e separatividade — a ação universal manifesta-se imediatamente, embora por detrás de todo o pensamento, sentimento e ação se encontre o ser único que é sujeito vivo em todas as atividades.

A universalidade, digamos para encurtar, é assunto não do que p homem é e sim daquilo que ele faz. Não pode isto deixar de ser verdade, ao verificar-se que a própria vida não é mero Ser passivo, porém é, ao invés disso, um momento de energia ativa. Não podemos, portanto, proferir a palavra “é” em um sentido puramente estático, relativamente a qualquer pessoa ou a qualquer coisa. No mundo da Verdade não há substantivos, há somente verbos. O homem torna-se universal na proporção direta, até ao ponto em que pensa, sente e age universalmente. Assim, pois, o assunto real não é o de saber se existe um Ego e se este persiste ou se é suprimido; e sim, o de saber se aquilo que está por detrás de todo o pensar, sentir e agir, como ser vivo e único, é capaz de tornar-se sujeito ativo em um processo de vida universal, portanto por intermédio e através de suas atividades, isto é, de transcender sua própria uniquidade.

O fato é possível. Pois é nisto, justamente, que consiste a libertação.

Os indivíduos acham-se atualmente tão interessados pelas questões últimas, que se esquecem de que têm de começar pelo início. Se partissem, simplesmente, do ponto em que se encontram e permitissem que o desdobramento se efetuasse naturalmente, verificariam que todas essas perguntas, com o correr do tempo, teriam respostas por si mesmas. A crisálida não pode sair da borboleta. Tornai-vos primeiro a borboleta, para depois chegardes a saber.


Praticamente, todas as perguntas feitas acerca do estado de libertação por aqueles que se encontram ainda em cativeiro, são feitas erradamente. Isto acontece por terem eles como coisas reais as coisas que para o homem liberto são ilusões. E quando o investigador chega a ver todas essas coisas como ilusões, não mais necessitará de fazer perguntas, pois que saberá. 

Krishnamurti, 1929
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill