Pergunta: Podeis dizer-nos algo mais acerca da perfeição? Será ela o
reconhecimento do verdadeiro valor das coisas, ou o desenvolvimento de nossas
mais elevadas qualidades? Se for este último o caso, não se acha implícito o
tempo?
Krishnamurti: O
reconhecimento implica a experiência. A perfeição, para mim, é esse ser isento de
esforço que é a pura vida da intuição.
A intuição, posto que não seja nem pensamento nem sentimento, é a meta do
pensamento e a finalidade do sentimento. Se a todo o momento estiverdes
concentrados, em observação constante, apercebidos, cheios de propósito, isto
implicará tempo.
Em todo o instante, seguramente,
o tempo existe. O modo pelo qual viveis e compreendeis esse instante é que é a
maneira pela qual haveis compreendido a noção completa de tempo. Para o homem liberto
não existe o tempo. O tempo vem a existência quando se trata de dar expressão à
consciência. A liberdade é o ser; a expansão é o tornar-se. Porém o ser, a
descoberta de nós próprios, a vida que é toda-integrativa, a ela chega-se por
meio do constante esforço — esforço que é auto-imposto, é auto-determinado. No
fim de tudo, a verdadeira conduta é a conduta auto-realizada, auto-causada. Vós
buscais a expansão, o tornar-se, a multiplicação do “eu sou” através do tempo,
por meio de diversos fenômenos; e nisto o tempo acha-se necessariamente implícito.
A liberdade do ser, a liberdade da consciência, não implica tempo ou espaço,
pois que nesta não existe a multiplicação de muitos “eu sou”. Esta realiza-se
em um momento, no qual toda a existência está. Assim, a libertação não é
expansão da consciência porém sim o libertar-se da consciência.
Krishnamurti em Reunião de Verão, 22 de julho de 1930