Pergunta: Haveis dito outro dia
que entendíeis por crenças algo imposto do exterior. Uma convicção ou intuição interna,
não necessariamente provável pela lógica, seria por acaso prejudicial?
Se estabeleceis regras mesmo sobre tais crenças, se as pessoas
admitirem vossos conceitos a respeito de não possuíssem crenças assim tão
literalmente, não chegaria a vida a deter-se?
Krishnamurti: Se as
pessoas tornarem crenças as minhas explicações, a vida chegará a deter-se. Convicções,
intuições, e o vosso próprio conhecimento interior não são a mesma coisa que
crenças. Por crença entendo eu a aceitação de uma ideia imposta por outrem ou a
qual vos tenhais adestrado para aceitar sem entendimento. A intuição, ao
contrario, é o mais elevado ponto de inteligência e pelo conservardes a inteligência
constantemente desperta, fazeis convites à intuição, a qual é a luz guiadora
pela qual deveríeis conduzir a vossa vida, em lugar de o fazerdes pelas crenças
e dogmas.
Todo homem tem crenças que lhe são
impostas ou nas quais ele cresceu. Essas jamais mudarão ou libertarão a vida
interior; porém, pelo convidar a dúvida e pelo manter a inteligência entusiasticamente
desperta, produzirá ele algo de muito maior do que jamais pudera conseguir por
meio de meras crenças.
Pergunta: Poderia parecer que a intuição é necessária afim de
compreender-se a verdade. Pode esta intuição ser ensinada ou é ela apenas a
resultante do desenvolvimento?
Krishnamurti: Não pode
ser ensinada. Como se pode ensinar a experiência? Ou ainda a maneira de colher experiência?
A intuição — somente estou dando uma definição; há centenas de outras; podeis
tomar aquela que vos aprouver — a intuição é o mais elevado ponto de inteligência
e a inteligência é o acúmulo da experiência. Sem experiência e sem inteligência
jamais pode haver intuição. Podeis possuir rudimentos dela — todos os possuem —
porém eu falo acerca da intuição consumada e completa. Uma tal intuição jamais pode
ser ensinada.
Quando vedes um mestre pintor,
podeis imaginar que lhe seja possível transmitir seu dom aos discípulos? E no
entanto perguntais-me: “Podeis, por favor, transmitir-me a vossa intuição?” Se
eu a pudesse transmitir, não valeria a pena ou possuí-la; se a aceitásseis, ela
não teria valor algum para vós. Isto é o que tendes estado a fazer até agora — a
aceitar a intuição, a compreensão de outrem e orientando as vossas vidas de
acordo com ela. Por isso, é que há o caos. Se, por outro lado, caminhásseis na
luz de vosso próprio entendimento da Verdade, não projetaríeis sombra sobre o
caminho ou sobre o semblante de outrem. Se obedecerdes às intuições, às ordens
de outrem, estareis criando tristeza, não somente para vós como para esse
outrem. Na obediência não há consecução; no executar os desejos de outrem, não há
entendimento. A verdade e a liberdade da vida somente podem ser atingidas por
meio da vossa própria experiência, de
grandes tristezas, dores, êxtases e alegrias — e por ultrapassa-las todas.
Krishnamurti, 1930