Pergunta: Qual o exato significado de “viver no eterno?” É isto
passível de realização por parte de alguém que esteja vivendo uma vida de
família, a qual vem a ser uma limitação ao mesmo tempo que um cativeiro? Se é possível
dizei quais as características externamente aparentes numa pessoa assim,
mediante as quais ela se faça notar em sua vida diária?
Krishnamurti: Quereis que
eu produza um padrão. Não vos
deixeis colher pela ilusão das palavras. Procurai averiguar a significação da
ideia que está para além das palavras. A exata significação do viver no eterno
não pode ser expressa em palavras. A verdade é um assunto puramente individual;
não pode ser traduzido por mim ou por quem quer que seja. Precisais de
entende-la em vossa própria uniquidade. Fiz uso desta frase afim de exprimir o significado do viver no agora, no
presente com o futuro à vista. A vida como tal, a vida vastíssima, essa não tem
futuro. Porém, a vida individual, enclausurada, aprisionada, tem seu futuro na
libertação, que é eterna, pois que então se achará unida com a vida que não tem
limites. Se estiverdes vivendo nesse futuro pelo contínuo ajuste, por um
processo constante de equilíbrio, estareis vivendo no eterno.
Que tem o casamento ou o não
casamento que ver com isto? Fazeis do casamento um embaraço, em vez de um
auxílio; tende-lo como um cativeiro. No fim de tudo ele é um processo de assimilação de experiência, não um cativeiro que vos force. Sei que,
na maioria dos casos, ele vos aprisiona, porque não sabeis como utilizar, como
assimilar a experiência dele. Vós o tendes com um cativeiro, como algo
terrível, tirânico, não digno do homem, porque não vos apercebeis de que vossas
esposas e filhos são companheiros vossos na assimilação das experiências em
vista do processo de crescimento. Tratai a todos que vos rodeiam como amigos,
por intermédio de quem e com quem cresceis. O casamento não é um cativeiro.
Nada do que vos proporcione experiência, nada que vos amplie, que continuamente
vos capacite a vos ajustardes a vós mesmos, que vos proporcione força, é
cativeiro. Se, porém, meramente atuardes em face do medo da moral estabelecida,
então se vos tornará em cativeiro.
Jiddu Krishnamurti em 1
de janeiro de 1930