Pergunta: Os cristãos sempre colocaram o Cristo aparte, separando-o de si próprios, como divino em um sentido único. Muitas pessoas pensam que vós, pelo mesmo modo, haveis tido uma preparação única que vos colocou onde estais, e que jamais podem atingir a libertação pela mesma maneira que vós a atingistes, pelo fato de sua preparação não haver sido a mesma. Posto que a preparação de cada homem possa diferir, não será a libertação a mesma para todos?
Krishnamurti: Quando objetivamente vos apercebeis da verdade, laborais em engano. Se, porém, verificais que a verdade está em vós próprios, então estareis vivendo a realidade continua da escolha, pois que a seleção é a descoberta perpétua da verdade, esta verdade que, potencialmente, se acha em cada coisa. Compete ao indivíduo verificar isto potencialmente em sua plenitude. Não se trata, portanto, de uma questão de preparação. Eu posso caminhar por uma estrada, vós por outra, porém, a totalidade da verdade está em cada coisa, em tudo. Assim, as estradas não tem importância, as preparações não são a coisa importante; tal ideia não é mais que uma invenção da mente. Por favor, compreendei que a verdade mora em todos; a verdade tanto se acha neste esteio de madeira como no homem mais culto. Louco é aquele que vê a verdade, a totalidade, como sendo objetiva, e por esse motivo busca muitas maneiras para encontrar essa realidade; as limitações auto-impostas surgem e daí provem a ilusão de se suporem seres separados, existências separadas, consciências separadas. Portanto, não vos preocupeis acerca da preparação para a libertação. Assim como todo o rio tem que abrir caminho para o oceano, assim todo o indivíduo, onde quer que se encontre, tem, afinal, que chegar a esta realidade, pois que ela é para todos.
Krishnamurti em Acampamento da estrela de Ommen, 1 de agosto de 1930