Uma das maiores ilusões do mundo
das coisas espirituais é o pretendo “trabalho para o mundo” — e é uma ilusão
tanto mais perigosa por ser muito sutil. Grande parte daquilo a que se dá o
nome de “auxílio ao mundo”, brota do
egoísmo disfarçado. É, porém, ainda mais, devido a um temor não
reconhecido. As pessoas temem combater consigo mesmas, com suas naturezas e
pensam que, por certo modo, podem obter um atestado de imunidade ocupando-se a
praticar boas obras. Tais atividades são fundamentalmente falsas. Se,
realmente, amardes o mundo haveis de vos esforçar por ser, por amor ao mundo. E se a vós próprios não puderdes conduzir à
prática deste esforço é porque o vosso amor não tem realidade. O homem que
tiver purificado a sua natureza até o ponto de encher-se de verdade e amor, não
pode deixar de prestar auxílio; no entanto, ele não é consciente da ajuda que
presta, pois não fará mais que meramente expressar o que é. E um auxílio prestado
assim, mesmo segundo as normas vulgares, será infinitamente mais poderoso, pois
que operará a todos os instantes sob quaisquer circunstâncias e sobre todas as
pessoas com as quais chega a entrar em contato. As boas obras, tal como muito
frequentemente são entendidas, são sinais de pobreza, antes que de riqueza da verdadeira
vida interna.
Krishnamurti