Pergunta: Se a libertação depende somente da realização interior e o
ambiente é apenas um assunto secundário, estaremos perdendo tempo ao
acentuarmos a necessidade de ambiente, tanto para as crianças como para os
adultos?
Krishnamurti: Na
individualidade existe potencialmente a realidade. Isto é, em vós, como
indivíduos, existe a semente da realidade. A vida está dentro da limitação, e a
vossa tarefa é realizar essa potencialidade que, depois, se tornará a
totalidade. Portanto, a pura ação, o puro ser, ali está sempre, oculto,
supresso, não conhecido; e lançar uma ponte sobre o abismo que separa a reação
da ação pura, que existe entre o começo e o fim, é que é o propósito do homem.
O começo e o fim estão no indivíduo. Essa totalidade, essa vida que tudo abraça
está também em vós mesmos como indivíduos. Vós é que não estais conscientes
disso e o vosso propósito é ganhardes consciência disso. Assim, pois, não é por
um processo de evolução contínua que haveis de atingir, porém sim, rasgando o
véu da separação, por meio do esforço incessante, por meio da concentração, por
meio da inspeção continuada. Como antes já disse, esforçai-vos por compreender
o significado das palavras. Estou utilizando-me de termos vulgares, porém
reservo um significado especial para essas palavras, estou me esforçando por
lhes dar uma acepção especial. Evolução, para mim, é o engrandecimento do “eu
sou” no tempo — que é expansão. Ela é o ser; como é a descoberta da realidade
em todas as coisas, o que destrói esta barreira da separação.
Libertação, portanto, não é um
processo de evolução, porém, sim, a realização de conjunto da vida, em que não
mais existe sujeito e objeto, em que não mais existe o sentimento de separação.
É essa felicidade pura da existência duradoura em que, vós, como indivíduos,
tendes que tornar-vos a totalidade que todas as coisas contém.
Krishnamurti em Acampamento da
estrela de Ommen, 31 de julho de 1930