Pergunta: Há muitas ideias divergentes sobre o progresso. Alguns
pensadores sustentam que não existe prova de haver o homem progredido nos
muitos milhares de anos de sua existência como homem. Outros sustentam que o
progresso se demonstra pelo evoluir da moral e pela maior complexidade da vida
moderna. A ideia teosófica é a de que existe uma extensa escala de progresso
através de iniciações indo desde a humanidade até a super-humanidade. Qual a
vossa ideia sobre o progresso verdadeiro?
Krishnamurti: Antes de
mais nada, progresso não é multiplicação de coisas — o possuir mais automóveis,
mais quadros, mais casas, mais castelos, mais seja o que for. Isto não é o
verdadeiro progresso. O progresso em tal sentido é apenas tornar-se — não SER.
O progresso, que é apenas
tornar-se alguma coisa, não é senão imitação. Continuamente vos estais
forçando por vos tornardes semelhantes a alguma outra coisa, e a isto
denominais progresso. Eu em absoluto não chamo a isto de progresso; o tornar-se
algo não é o fim, não é a meta da existência. O propósito da existência
individual é ser. Ser — se me é dado usar a imagem — é horizontal. O progresso
é vertical. Verticalmente podeis multiplicar — coisa que é apenas tornar-se
algo. Horizontalmente vós sois — e
nisso não existe consciência da individualidade, porém sim essa ação de vida
que é sem empecilhos, que é criação. Quando um homem verifica que este progresso
comum é tornar-se algo, ao passo que a vida é ser, não mais se esforça para
tornar-se algo e, sim por ser. O ser é infinitamente mais difícil do que o tornar-se algo.
Ser é não possuir sentimento de separatividade, não ter consciência da
individualidade. Ser é libertação da consciência, e daí, imortalidade, ao passo
que o progresso, que é apenas tornar-se algo, jamais termina. Um é apenas expansão; o outro é liberdade, é
a plena realização da vida.
Krishnamurti em Acampamento da estrela de Ommen, 2 de agosto de 1930