Pergunta: A vida, para cuja realização o indivíduo luta, aparece
diferentemente a diferentes temperamentos?
Krishnamurti: Certamente
que não. Os temperamentos existem por causa das existências separadas
individuais; porém aquilo que não conhece separação, não pode ser traduzido
segundo temperamentos; disso não vos podeis aproximar por meio de um
temperamento determinado. Se para tal olhardes a partir do ponto de vista da
parte, não vereis o conjunto, e, naturalmente, o conjunto aparece-vos
subordinado aos tramites da parte e, por isso, traduzis, essa parte como sendo
um temperamento. Por meio de um temperamento não podeis perceber aquilo que
está para além de todos os temperamentos. À medida que uma pessoa realiza esta
vida, pode ir traduzindo-a diversamente, usando termos diferentes, linguagens
diferentes, porém será sempre o mesmo quadro. É coisa semelhante à que se dá
com dois artistas que pintam a mesma cena. Se vos esforçardes por achar a
unidade nessas duas pinturas sobre a tela, ficareis totalmente confusos; se,
porém, perceberdes a cena em si mesma, ai encontrareis a unidade que foi
traduzida por duas expressões diferentes. Ora, as expressões, são os
temperamentos, e nos temperamentos não pode existir unidade; porém a unidade
existe naquilo que cria temperamentos.
Pergunta: Por favor, poderíeis nos dizer algo mais a respeito das
distinções existentes entre temperamento individual e aquilo que haveis
denominado uniquidade individual?
Krishnamurti: O
temperamento individual varia, ao passo que a uniquidade individual é contínua
até chegar à consecução, até que haja realizado. O temperamento individual
depende do nascimento, implica mudança de ambiente, personalidade, consciência
da raça, hereditariedade e assim por diante. A uniquidade individual é contínua
através do nascimento e a morte, é o guia único de vossa existência como
indivíduo separado, até que tenhais atingido a meta.
Krishnamurti em Reunião de Verão, 24 de julho de 1930